terça-feira, 1 de outubro de 2013

Meio minuto

   Ela veio correndo perdendo mochila e livros e deixou cair uma garrafa de água e um papel, pensou em voltar eu acho, porque deu um passo para trás. Devia estar muito atrasada porque desistiu e subiu de três em três degraus as escadas. Confesso, mostrou uma parte da calcinha. Ela estava de vestido (e que vestido bonito).

   A fila do jantar era longa e já durava cinco minutos quando eu ouvi uma risada alta e fina, olhei para trás meio irritado e me surpreendi ao ver que era a mesma moça de hoje à tarde, com seu mesmo vestido florido e coxas grossas. E nossa, como era linda! Tinha o cabelo muito liso e de um castanho quase loiro. A segui por todo o refeitório e deixei algumas pessoas passarem na minha frente na fila no buffet para ficar perto dela e ouvir sua voz. Só de curiosidade, sério. Porque a risada dela era muito irritante.

   A perdi de vista quando fui reclamar do frango meio cru e muito desanimado fui sentar com uns amigos no fundo do refeitório. Entre um agrião e um pedaço de frango meio cru nossos olhares se encontraram, e ela, na minha frente, logo desviou a cabeça.

   Três semanas depois eu precisava de um livro na biblioteca. Mas onde está esse diacho?! Estava concentradíssimo quando houve um estrondo numa das cabines de leitura, e lá estava ela se desculpando por derrubar o notebook da amiga em meio a uma enxurrada de sibilos de pedidos de silêncio. Não contive a risada e fui ajudá-la. Ela não estava nenhum pouco vermelha, como pode?
   Quer tomar um café? Saiu antes que eu pudesse pensar, e antes que eu pudesse assimilar a pergunta que tinha feito ela aceitou. Como assim? Ela aceitou? Coloquei a mão nos bolsos, era bom que eu tivesse três reais para pelo menos pagar um café a ela. Deizão. Que beleza, dá um capuccino.
   Nós já estávamos descendo do elevador quando eu me toquei que estava levando a moça bonita dos cabelos castanhos para tomar um café na cantina. Só não posso contar uma piada muito engraçada, se ela der aquela risada de novo vai me rachar a cara de vergonha.

   Onde você mora? No centro. Eu também. Você curte indie? Fui no Lolla. Que inveja, vou ano que vem. Vamos juntos. Seus olhos são lindos. Gostei do seu cabelo. Quer mais um café? Acho que um chocolate. Já venho. 
   Ela sorria muito, muito mesmo e quando eu contei uma piada ela riu e eu achei a risada bonitinha. Encantadora, na verdade.  Não, você está se apaixonando? Amor a primeira vista? Nunca. Vou pagar esse chocolate e dar no pé, inventar alguma aula. Quanto custa? Mas quatro e cinquenta é um roubo. Ela está lá, leva o chocolate, troca mais meia dúzia de palavras e vaza. Talvez um beijo. Um beijo e vaza. Só pra não perder o deizão. Teu chocolate. Obrigada. Que beijo bom. Não, não goste. Mais quinze minutos e tchau. Linda, tenho que ir, tenho uma aula. Ok, a gente se vê. Te adiciono no Facebook. Tá. Tchau.

   Duas, três semanas, um mês. Fui pra aula num horário que eu já não ia há um mês, vou falar com a moça, que atitude estúpida. Um beijo e tchau, ela nem vai querer olhar na minha cara. Talvez ela tenha gostado de mim também, se eu inventar uma desculpa, ela aceita. Vou dizer que, sei lá, estava apaixonado demais e com medo. Ela vai cair na hora. Subi as escadas de três degraus e cacete! Ela estava lá, toda linda, de vestido colorido e chega um cara equilibrando o cigarro e o copo de café numa mão só e no outro toda a cintura dela bem apertada entre músculos. 
   Vadia.


Nenhum comentário:

Postar um comentário