Pararia de escrever se me ouvir você fosse
Hoje, só o que eu tenho é um "fosse" de fossa
Uma foice mal dada, um som, uma bossa.
Eu entoo para sua sombra na parede na sala
Para sua foto no porta retrato do quarto
No prato da cozinha, nos muros pixados da periferia
Eu faço uma rima ruinzinha e levanto a cabeça com o ar
"não me peça para ir, não vou te deixar" é o que eu te digo
Mas quem vai é você.
Sonhei com a tua voz e com teu jeito de música
tuas dedilhadas de violão, teu meio tom
teu sorriso torto e tua mal disfarçada cara de bobo
Tuas interpretações mal feitas me atormentam a noite toda
E enquanto dura a noite a coragem me toma
No outro dia te falarei das sombras que me assombram
e quando amanhece desde cedo já encaro tuas fotos que nada somam.
E a coragem some com o breu da madrugada
E mascarada a rotina me segue e eu juro que sou tua amiga
Me perdendo em peitos estranhos procurando o teu
Sorrindo em outras bocas esperando ser a tua
que Deus me perdoe desta procura
desesperada de me livrar dessa sina escura, desta rua fechada, sem saída
Mal fadada, porta fechada para mais uma desilusão.
Enquanto de três em três meses pego a tua mão e coloco no meu peito triste
Esperando que você escute mais meu coração
porque eu já não o ouço mais.
E de mais a mais, de dezembro a dezembro, vou procurando aqueles haicais
Aquelas três linhas que te digam tudo
Que possam, de algum jeito, te dizer do jeito mudo
que nada mudou, e que o meu gostar de você já se espalhou pelo mundo.