quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Selfie

   "Eu já estava tomando banho frio. Tipo, gelado mesmo. E nem isso dava jeito no calor. Fiquei quarenta minutos embaixo da água e o espelho do banheiro não embaçou, assim pude ver minhas olheiras. Meus olhos eram duas crateras escuras, fundas demais, eu mal via meus olhos. Há dias que eu não dormia e eu acho que é porque eu me acostumei a sentir seu cheiro durante o sono. Metade das noites eu passo acordada e a outra metade eu passo lutando contra os pesadelos. Eu durmo na sala e acordo na cama, mas eu estava sozinha em casa, o que significa que meu sonambulismo atacou de novo. Esquizofrenia, lágrimas. Eu acordo chorando todo dia. Reabilitação, por favor, estou viciada. 
   Passei maquiagem porque com o rímel vem a minha dignidade, esta que eu perdi quando te conheci. Por fora eu desejei bom dia sorrindo, por dentro eu estava arranhando as paredes em aflição. O colírio disfarçou meus olhos de choro. Eu estou bem, juro. 
   Coloquei roupa nova, saia branca e blusa azul, óculos de sol para não irritar ainda mais meus olhos de colírio que disfarçam o choro. Peguei o celular e saí no vento para espairecer. Eu chorei tanto por você esta noite, ouvindo as músicas que me fazem lembrar de você, ouvindo suas músicas, essa sua voz que ecoou nos meus sonhos após ter adormecido. 
   Ele estava lá me esperando no lugar combinado, pontual e sorridente. Foi pra compensar os carinhos que você não me deu, eu juro. Eu estava me sentindo sozinha, eu juro. O beijo dele é melhor que o seu, mas é com você que eu sonho, eu juro. O abraço dele é mais forte e o cheiro dele me deixa tonta, é verdade. Ele pega na minha mão pra andar na rua, me dá beijo na testa e na boca, faz carinho no meu cabelo em público e me deixa sempre um passo a frente dele, mas eu prefiro seu beliscão, eu juro. Foi por amor a você que dei pra ele, eu juro."

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Feliz natal!

   Estou bêbada.
   Não pense que meu natal está sendo animado. Na verdade, está como em todos os outros anos. Na verdade, está faltando uma peça. Não, graças a Deus, ninguém do dia de natal morreu. Ainda.
   Estou vendo minha mãe fazendo o pavê, mas nenhum tio vai perguntar se ''é pavê ou pá cumê", porque passamos o natal sozinhos há anos. Sozinhos. Sete pessoas sozinhas numa casa no meio do centro. Sozinhos com nossos pensamentos do ano que passou até ali, sozinhos com nossos sentimentos tristes e melancólicos de como seria se a família estivesse bem das pernas. A verdade é que ninguém faz muita coisa para aposentar as muletas. Nem eu, good boy, nem eu. Acho que os domingos de advento são sempre mais divertidos, embora este ano eu tenha até esquecido do que é domingo de advento. A família tem uma tradição de pré e pós natal, de montar a árvore, de enfeitar, de acender as velinhas por quatro domingos na mesa de jantar, de colocar panetone embaixo da árvore cheia de pisca piscas. Depois esperar o Dia de Reis para comer bolo, tomar champanhe e guardar toda aquela bugiganga. Mas no dia 24 e no dia 25 somos múmias estáticas esperando alguém que nos salve. Estamos imóveis com uma ceia de natal sabendo que vai sobrar muita comida para o dia seguinte. Que vamos sobrar inteiros para o dia seguinte.
   Estou bêbada.
   Mas só estou testando se tonta consigo escrever melhor. 
   Na próxima vez eu tento com maconha.
   Mas eu queria mesmo lsd. 
   Aliás, feliz natal.
   E não espere um post meu no Reveillon. Porque no Reveillon não vai sobrar nada de mim.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Saudade

Passei dias olhando pela janela
A visão turva do vidro embaçado
Garoa fina no jardim
transformava as árvores em garras
Árvores sem folhas, peladas
a balança pendurada no galho
esperando uma criança que cresceu
que deixou para trás o monumento
objeto inanimado cheio de lembranças.
A balança só balançava com o vento
Dias Sozinho
Isso não faz bem pra ninguém
A saudade de momentos bons
transformam sonhos em pesadelo

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Tanto quanto tarde

Eu não conseguia me livrar das cordas
mas sentia o cheiro do perfume das flores
a liberdade se aproximava, agora
e eu ouvia o ruído do mar
me chamando, me puxando para o fundo
sentia os pés na areia
Com os olhos fechados, com a boca cerrada

As cordas estavam ali
me prendendo numa ilusão cruel
e o paraíso tão perto de mim
numa pretensão cuja intenção não era identificável

Eu sentia o cheiro das flores
mas observava outras pessoas no jardim
enquanto eu estava presa por cordas invisíveis
achando que era ele quem me mantinha ali
mas quando vi
ele dançava em meio ao perfume
e quando eu percebi que era eu quem me prendia
já era tarde demais.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Retrospectiva 2013 (eita, Luana! Issssso, vai nos rolê!)

   Menos um ano de Letras.
   O diabo é que eu tenho a impressão de que conforme os anos forem passando, o débito vai aumentar. E os quatro anos e meio de Letras, vão ser capazes de virar oito.
   Saldo do ano: disciplinas atrasadas e pança de cerveja.
   Ah, a faculdade!
   Acho que se eu for seguir carreira acadêmica, acabo contraindo uma dst em umas das festas do DCE famigerado ou contraindo uma pança à la meu pai. Daquelas durinhas e bem redondinhas, branquinhas e reluzentes (Deus me livre! Cadê o Wilheim ((meu personal)) pra me passar uma daquelas séries milagrosas da academia?).
   Falta uma prova ainda, uma prova que eu não queria fazer, eu deveria ter reprovado direto. Mas minha consciência não vai deixar eu me livrar dessa porcaria de sintaxe mais de uma semana antes do Natal. Sexta-feira eu vou lá, fazer exame final, depois de estudar dois dias a fio e na terça-feira tamo aí, enchendo o * (insira aqui um sinônimo bem feio pra ânus) de cerveja e comendo o peru da vó (atenção, peru, não piru). Mas tudo bem, só os campeões vão pra final!
   Se eu tenho esperança de passar? Meu, eu fui pra final! Não vou ser hipócrita, no fundo eu tenho, sim. É menos uma disciplina atrasada e faz toda diferença no final do meu curso.
   Não sou caloura mais, não tenho desculpas mais, não posso mais me fazer de boba. Daqui a pouco eu faço 18 anos. Mas eu já contei minhas neuras com idade aqui. Perdi meu RG e minha carteirinha de estudante. Tô puta até agora. 
   Perdi a cabeça, o juízo e a dignidade. E vou botar a culpa na faculdade pra sempre, também. 
   Eu cresci e estou numa piscina de merda, sem saber nadar e sem ter pra onde correr.
   Mas eu não reclamo. Sexo tá tendo, cerveja tá barata, recebi meu décimo terceiro e sou vulgar por opção. Quando eu cansar desta posição eu mudo e ninguém vai nem lembrar do que um dia eu já fui. 
   Só não estou conseguindo resolver problemas do coração, mas tudo bem, isso aí eu desconto no blog.

Violeiro

   De repente, tudo ficou meio sustenido.
   Eu não sei ler partituras, pois é, então fiquei confusa quando disseram que minha vida era representada numa. Essa história de "tudo ficou sustenido" parece ser ruim. Mas e se for bom e eu estou aqui reclamando?
   Ele que disse que minha vida estava virada numa partitura. Mas vindo de um músico que estava aprendendo a ler partituras, eu imagino que foi no sentido pejorativo. Acho que ele fez uma piada sobre a confusão que eu faço com tudo. Era tão simples eu pegar sua mão e deixá-lo me conduzir. Mas é música demais na minha vida e de repente me veio o medo de estar escolhendo a música errada, a música ruim.
   "Deixa eu te ensinar uma coisa de violeiro de estrada, Luana, não é dos acordes mais complicados que saem as músicas bonitas. Você pode me deixar compor uma canção com dois acordes para você e nós dois deixaremos ele se complicar com os arranjos tão difíceis quanto a cabeça dele."
   Eu ri. Tinha como não rir? Nesse ímpeto, nessa surpresa de saber que todo mundo sabia da minha vida melhor que eu.
   "Você está enganado." Mas eu sabia que ele não estava. Mesmo não sabendo chongas dessa coisa de violeiro de estrada, eu sabia do que ele falava. E eu sentia, com todo o meu coração, com toda a minha vontade, que ele tinha razão. Então só por aquela noite eu deixei que os dois acordes me encantassem, era um violão e uma viola, vinho, cigarro e todo o céu ao nosso dispor numa madrugada de sexta-feira.
   E eu, eu era toda estrelas.

O diário do moço dos cachinhos

   "Ela demorou pra dormir.
    Eu, com meus braços envoltos nela, oscilava entre a consciência e os sonhos, mas eu sabia que ela estava acordada. Com medo.
    Eu estava mal, mal porque meus braços não lhe eram suficientes, mal porque o sexo há pouco findado não lhe foi tão bom, mal porque ela pensava em outro, mal porque não era ali que ela queria estar e, principalmente, mal porque outra pessoa a chamava. Mesmo longe, ele chamava. E ela iria até ele pela manhã, como ela fazia agora numa frequência de todas as semanas. 
    Ela iria. E eu, quando o sol saísse, teria que fingir não me importar, fingir indiferença, fingir que ela não faria falta por janeiro inteiro, que não sentiria seu cheiro na minha cama em todos os dias do próximo mês. Enquanto ela, depois do banho, nem se lembraria tanto de mim. O creme dental tiraria meu gosto da sua boca e até o próximo sábado todas as marcas que não chegariam a virar hematomas sairiam de seu corpo. 
    E eu aqui, sentindo o cheiro do seu perfume doce de café no meu travesseiro, lembrando do último abraço quando ela falou o nome dele. E fingiu que eu não tinha ouvido. 
    Cigarro, vinho e café. 
    Suportar sua ausência em janeiro, foi por nosso bem.
    Você lembra dele na melodia, eu lembro de você.
    A última vez foi doce, para não amargar tanto quando eu te ver partir."

Moços de letras não choram,
moços de letras escrevem.
E eu gostaria de escrever você.
Sim, foi por nosso bem. ♥

domingo, 15 de dezembro de 2013

Leia

Há uma poesia em minha alma que já é definitiva,
impossível de ser transcrita,
declamada com os olhos ela é acusadora, infinita, explícita.
Desnecessário botá-la no papel
ela é suficiente em meus gestos
me transborda, me plena, me plana
ela me é e eu a sou.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Partiu-se


Em quantas mentiras mais vai insistir
qual história agora vai inventar
pra justificar esse medo de ficar
pra esconder a vontade de não partir

Quantos dedos ainda vai levantar
gesto este que manda eu me calar
e não gritar pro mundo todo o que você quer ouvir

A quantos mais vai me entregar
fingindo não se importar
dizendo que não quer ficar aqui

Onde mais vai me esconder
pensando falsamente que ninguém vê
o reflexo no espelho que te fez sorrir

Quantas letras escreveu
que mais parecem orações
suplicando não se envolver
implorando não sentir

Prefere não se entregar
 não vê que já teve fim
mentiu pra todo mundo
mas não vai mentir pra mim

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Sol de três da manhã

Indefinido
Indeferido, prossigo
Sem vontades levadas em consideração
Insisto
Porque é melhor ter isso
Do que não ver nada, cegar por orgulho
E ser mal visto
Visto que agora as coisas mudaram
A quimera acontece
A utopia é mundo real
E a noite já amanhece. 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Metade

Acordei querendo falar
atrasada como sempre,
hoje não teve café na mesa
unhas vermelhas descascadas
duas ou três meias lembranças intensas
não lembrava de tudo com nitidez
acho que a ansiedade embaçou minha visão
os olhos não enxergavam com clareza
abri então os olhos do coração
A alma morreu,
a alma morreu!
Que alguém leve esse corpo, por favor.
De que adianta meias verdades,
meias mentiras,
meia salvação, meia vida.
desviei o rosto pra não ver a bagunça dos lençois
não quero sofrer com a falta que você faz
não quero conviver com a confusão que você me traz
Tô esperando minha alforria
tentando ignorar a euforia
de cada palavra que você diz
Eu não sei o que você quer
Tudo bem, eu não sei o que eu quero
Eu quero que o silêncio não me enlouqueça
eu não quero ouvir zumbir
A alma morreu,
a alma morreu!
De que adianta meias verdades,
meias mentiras,
meia salvação, meia vida.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Lolita

Piscou seus olhos de apagar a luz do dia
e eu consegui ouvir o farfalhar dos cílios
anoiteceu o sol da minha alma
o sorriso desenhado da doce menina

Pousou as mãos de seda em meu joelho
e ofereceu o peito em afeição
seu olhar me tirou o jeito
entregue ao pecado e à tentação

Moça dos cabelos de fogo
tuas cores me levaram às ruínas
caí na inocência do teu jogo
pelo teu convite me fascina

a melanina da minha pele não me bastou
e a experiência me levou à cova
em tua pele alva que a devassidão disfarçou
o diabo me pôs à prova

mulher já nasce sabendo tentar
e ignora a idade que tem
nenhum homem vai escapar
não importa de que lugar vem

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Amor livre (reflexão)

   Fiquei pensando no conceito de amor livre após levar na cara de hipócrita (hipócrita é o caralho, inclusive!) por alguém que nem parou pra pensar no que significa essas duas palavras.
   Amor livre, aliás, o que significa?
   Liberte-se dos rótulos, liberte-se dos conceitos sexistas, liberte-se da vergonha. Amar sem vergonha o amor-sem-vergonha, não ter medo de aceitar as qualidades e amar os defeitos. Não julgar. Fazer o que te dá vontade quando você se sentir à vontade. Amar pessoas, não gêneros. Amar pessoas e coisas e gêneros. Beijar aqui, ali, depois mais pra baixo (mas só se você quiser). Monogamia, bigamia, poligamia, gamia nenhuma desde que você e as outras gamas estejam em comum acordo. Porque é comum. Amar mais de uma pessoa é normal. 
   É normal amar assim?
   Não. Normal é botar rédeas no coração. Se sentir livre pra amar é hipocrisia. 
  "Criança não ama!" Ama sim, desgraça, ama mais que você. "Velho não precisa de sexo!" Precisa e tá fazendo mais que você. "Sou assexuado, não quero relação com nenhum dos gêneros." Não tem problema, vamos ouvir música, ver filme, se você não quiser me comer, a gente come uma pizza. 
   Eu me sinto livre porque eu amo. Existe frase mais clichê? E qual é o problema com os clichês? Eu me sinto livre porque eu amo com 17 anos, eu me sinto livre porque eu deixei livre para que a pessoa escolhesse ficar comigo ou não e quando ela escolheu não eu me libertei para continuar amando outras pessoas mesmo sem deixar por completo esse outro amor de lado. Eu amo com paixão, com 17 anos, com hipocrisia, por que não? Eu amo com entrega, porque paixão meia boca não me interessa.
    Eu não tô na idade de ser fria. Aliás, idade nenhuma é idade de ser frio.
   A liberdade do amor está no que você quer fazer para amar.
   Eu amo, amo a liberdade que o amor livre me dá.

O mês do amor

   Hoje é dia 03 de dezembro, mais precisamente 09h44 da manhã. Gostaria de lembrá-los que falta 18 dias para o verão. Só 18 dias. 
   Isso significa que não tem mais tosse, não tem mais rinite, não tem mais casalzinho grudadinho de amorzinho porque o verão tá chegando e, com o sol, chega a praia, as festas, curar ressaca de caipirinha com cerveja (quem é que namora nessa época né) e logo, logo tem carnaval. 
   E é, com muita alegria, que comunico que sobrevivi à primavera.
   Sobrevivi não sem algumas marcas, mas sobrevivi e cheguei ao meu segundo mês favorito do ano: dezembro, o mês do amor.
   Mês que a gente começa no gás tentando salvar o semestre nas últimas provas, trabalhando feito louco e conciliando tudo isso com festinhas de confraternização até do inferno com a presença ilustre do diabo que fica meio loucão depois das três da manhã. E depois do dia 23, dia da preparação oficial pro natal, a gente come até ter a sensação de que vai encostar na língua e sentir a última garfada de comida que engoliu, e aproveita as férias do jeito que nos deixa feliz. 
   O que eu vou fazer este ano eu não sei. Por enquanto eu estou tentando salvar meu semestre, trabalhando feito louca e conciliando tudo isso com festinhas de confraternização que, no caso, quem aparece é o meu chefe e fica muito louco depois das três da manhã. 
   Talvez eu vá pra praia dar uns beijos nos caras que até então estavam namorando e eu estava cobiçando, talvez eu cure ressaca de caipirinha com cerveja, talvez eu vá no pré-carnaval e dê pt na casa do meu melhor amigo. Talvez eu esteja a fim de só passar em casa vendo filme e série. 
   Talvez.
   Sei lá. 
   Dezembro é o mês do amor, afinal. Mas dezembro é o último mês da vida que eu estou levando agora. As coisas vão mudar e eu sinto isso, então talvez eu só queira aproveitar o marasmo que eu não tive durante os onze meses anteriores.
  Na verdade eu acho que já fiz nos onze meses o que as pessoas esperam pra fazer no décimo segundo. Acho que agora eu só tava a fim de sossegar.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Descontrole

   Ah, madrugadas vazias de devaneios que nem poderiam imaginar qual vento apontaria a nós naquela noite fria. Eu estava muito louca, ou tinha sol às três da manhã? Então de onde vinha aquela luz toda que de repente apagou todas as sombras projetadas em nós durante todos esses anos? Pra onde foram os disfarces, os silêncios, as mentiras? As pedras duras colocadas sobre fatos com o café e os cigarros em cima da mesa numa manhã de domingo? "Eu não quero que você fique triste", ele dizia. Mas como entristecer se eu não preciso mais mentir? Será que ele não vê o alívio que senti ao saber que ele sabia sem que eu precisasse despir a verdade nos primeiros raios de sol às seis da manhã?
   O resto, o que vem depois, não importa tanto assim como importava naquela hora. Pensando bem, aqui no meu silêncio, o que importa é minha reclusão no casulo que faz sumir tristezas. O que vem depois... Ah, o que vem depois é fruto do nosso descontrole.

Parece naufrágio, mas é amor (o que é quase a mesma coisa)

É como viver à deriva
ter os olhos fechados no balanço
os lábios secos pela brisa
é naufragar no mar manso

Achar que foi encontrado
e ser perdido no abismo,
na imensidão machucado,
tempestade sem aviso.

Procurar apoio em gravetos
ignorar o resgate,
ser salvo no último momento.

Mas nós não temos nenhuma culpa
O amor é que é uma coisa cruel
e absurda

sábado, 30 de novembro de 2013

Só Nando salva.

Ó, padroeiro das almas desgraçadas pelas confusões do sentimento, fazei mais músicas que se expressem por mim.
Amém?
Amém.



"Sou sua mas não posso ser
Sou seu mas ninguém pode saber
Amor, eu te proíbo
De não me querer"

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Certo

E vêm olhos me fazer uma fofoca daquilo que eu já sabia há anos
E vem boca me provar as minhas desconfianças
Tão certo como o céu é azul, tão certo como moro no sul
tão certo como dois e dois é quatro, mas também pode ser um

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O homem sem nome

   Agora que o efeito da bebida passava eu via como o lugar era sujo. Depois de largar a quinta boca me deparei num prédio que mais parecia estar abandonado, mas lotado de gente bêbada e depravada ou dançando ou se agarrando nos cantos escuros. A fila do banheiro estava enorme. Desci as escadas pra procurar o amigo que veio comigo, fui até lá fora onde as pessoas descansavam do ar úmido e pesado da sala onde acontecia a festa, alguns fumavam, alguns bebiam, alguns encostados na parede cochilavam. Era quase de manhã.
   Emprestei um celular e liguei pro meu amigo, visto que não o achei e ainda bem que sabia seu número de cor. Estava cansada, mas ainda não queria ir embora, eu só precisava saber onde ele estava. Peguei mais uma cerveja no balcão e me encostei na porta para observar a alegria excessiva e passageira das pessoas que agora sambavam ao som de uma música muito antiga na qual eu não estava prestando atenção. Meu olhar e meu pensamento estavam focados muito longe dali quando alguém passou por mim e chamou minha atenção dizendo "como tem maloqueiro aqui, né?''. Era uma voz grossa de homem e ele apontou com a cabeça em direção do lado de fora da porta onde eu estava encostada. Havia ali três caras vestidos com moletons enormes, de bonés e um deles tinha dreads e muitos piercings no rosto. Tomei um gole da minha cerveja e dei de ombros, ignorando o rapaz que pegou uma cerveja e sumiu da minha vista.
    Deu tempo de mais três sambas tocarem, de eu dispensar um guri chamado Gabriel que veio conversar comigo e do tal Gabriel arranjar uma outra mulher com quem se atracou de um jeito que nem água fria separaria; e o cara da voz grossa voltou com a mão direita erguida e eu tive que focalizar meus olhos até entender que ele mostrava o dedo médio, quando isso aconteceu ele já estava encostado em mim até a altura do peito, com o braço esquerdo encostado na parede e curvado até seu nariz encostar o meu não me dando nenhuma chance de desviar. Apertei sua mão para esconder o gesto obsceno e com a mesma mão ele apertou forte meu rosto me dizendo que não adiantava eu ficar ofendida, porque era símbolo de não-sei-o-quê-de-rock e que eu era muito burra pra não entender nada disso.
   Quarenta minutos depois e eu não acreditava que ainda estava aguentando as farpas daquele cara bonito e arrogante que a cada frase que soltava dizia duas ou três indelicadezas. Ele bebia muita água e logo foi ficando mais lúcido e quanto mais lúcido, mais próximo de mim ficava, mais carinho me dava, mais propostas me fazia, mais patadas me dava. Eu esqueci que meu amigo estava muito atrasado, e só lembrei de ir embora quando os primeiros raios de sol atingiram a sala e começaram a revelar os casais embriagados nos cantinhos. Junto com a claridade veio o frio arrepiando a pele nua dos quatro braços envolvidos, nós ficamos mais perto um do outro para espantar o gelo e ele alternava seus carinhos suaves para apertões cada segundo mais agressivos e alguns puxões no meu cabelo. Mas se eu não tivesse gostado eu o teria mandado embora, coisa que não fiz. Ele me chamou a atenção. Ele me lembrou alguém, então fiquei.
   Ele estava de olhos fechados e respiração ofegante quando se ofereceu para me levar pra casa e eu quase aceitei. Estávamos na rua quando o amigo desaparecido apareceu com o meu juízo e o meu casaco. Então nos despedimos e ele ficou me observando ir embora com um dia quase claro. Eu quase entrei, pela terceira vez na minha vida, no carro de um homem estranho e, se eu tivesse saído cinco minutos mais cedo eu teria feito mesmo. Eu não pensei em sair com mais ninguém, continuar o domingo com mais ninguém porque ninguém foi tão espontâneo, tão mal educado, tão desgraçadamente sedutor. 
   Acho que eu nunca gostei de carinho mesmo, de puxa sacos doces demais, apaixonados demais, delicados demais. Esqueci das cinco bocas anteriores assim que aquele cara apareceu e me agradou tanto que não nos preocupamos em dizer nossos nomes.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Pecado original

Eva, lhe sou compreensiva
se eu não soubesse qual o gosto que o proibido tem
eu também lhe julgaria

Sangue quente, olhar pulsante
passo vacilante, palavra veemente
pintou os lábios de vermelho
para marcar a pele alva

encontrou na noite o espelho de sua alma
Todas as mulheres são a reencarnação de Eva
pecadoras, irresistíveis, feras
A interpretação em carne da perdição

Quero mesmo é provar o último sabor do pecado
e encontrar outras maçãs que me satisfaçam
devorar a carne com a mão.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Lia

Um pé no mar, 
um pé na lua,
a Lua fica.
lábios cerrados,
a lua imita
eu, pois, ia.

Mon cher diary

   Um horizonte reto, uma linha tão reta quanto minha vida era torta, o mar ia e vinha, as ondas cobriam os castelos de areia e voltavam. Já era tarde, o sol e as crianças já davam lugar ao tom azul claro do fim do dia e aos casais que sentavam em pontos isolados da praia. Era óbvio que ali, sozinha, minha mente viajaria quilômetros até chegar a você. Claro que viajaria.
   Tinha dois guris sentados há poucos metros de mim e até eu lembrar de você, eles tocavam reggae no violão. Então, no mesmo instante em que o céu começou a ficar laranja, que minha mente divagou, eu ouvi Pink Floyd. Nem preciso dizer que música era. 
   Meus joelhos já estão doloridos e minha vista turva, exatamente como naquela sexta-feira de praia. O problema é que agora eu estou vivendo numa eterna fadiga, na qual os sonos nunca me são suficientes, a água não sacia a sede e a comida não me mata a fome. Eu estou num labirinto, moço, eu não sei a saída. Me sinto nesse labirinto sendo guiada por você e estou vendada; cada vez que tento soltar sua mão, você me resgata e eu ainda não sei se isso é bom, porque eu não sei onde você está me levando. E apenas segurar sua mão não é suficiente.
   Eu sou inconstante, mas mudei isso por você, na verdade a mudança foi inconsciente. Quando eu vi, pela primeira vez na minha vida, eu tinha certeza do que estava sentindo. Retomando, eu sou inconstante, mas odeio a inconstância que sinto em você. As fotos estão espalhadas pelo quarto num dia escuro de chuva e eu quero me libertar desta situação, estou com você mesmo que você esteja muito longe e então eu fujo pro meu mundo onde eu consigo nos definir. Mas como fugir? Como não querer todo o céu quando você já tem as estrelas?

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A primeira à direita

   Paulo abriu os olhos ainda sentindo o sabor de seu sonho. Olhou de canto o sol adentrando a janela - nunca conseguira acordar com um despertador eletrônico, sempre odiou aquele barulho e então deixava que a luz do sol fosse naturalmente lhe despertar. Desde então nunca mais sentiu mau humor matinal. 
   Levantou e deu comida à sua gata, colocou água e café na cafeteira e foi tomar um banho. Enquanto a água esparramava-se por sua face pensava em mais um dia cansativo que teria de enfrentar, quando percebeu que seu humor era tão bom naquele dia que as horas lhe passariam voando. O café ajudou a despertá-lo, escolheu a roupa rapidinho, pegou a maleta e saiu para mais uma manhã de primavera. Fazia calor na cidade e achou muito gostoso o ar quente o envolvendo; se sentia como num filme, mas achou a ideia ridícula demais para admitir até para si que se sentia como a mocinha protagonista. Ainda estava rindo da ideia quando viu a mocinha protagonista real.
   Todos os dias ela passava como um furacão, sempre com pressa, sempre atrasada. Ele a via atravessando a rua e a acompanhava com os olhos até a esquina onde ela virava à direita e ele seguia reto. Ele nunca conseguia alcançá-la. Nunca havia tentado alcançá-la. Naquele dia ela parara no sinaleiro, com cara de sono nem notou a proximidade do estranho senhor de meia idade que já foi logo começando uma conversa sem se apresentar:
   - Você sabia que nos encontramos todos os dias por aqui?
   Isso parece papo de tarado e louco, pensou ela, mas apenas sorriu. - Não, nunca havia reparado. Os acasos da vida...
   E a conversa seguiu até a esquina onde ela viraria à direita e onde ele seguiria reto. Graças a Deus, aliás, pensou ela. Um pouco preocupada, pensou em mudar seu horário no dia seguinte. Só para garantir, claro. Foi só entrar na escola onde trabalhava que a mocinha esqueceu do ocorrido com Paulo, o estranho homem que a abordou só por curiosidade de saber quem era.
   No dia seguinte ela saiu de casa dez minutos mais cedo e mesmo assim lá estava ele, parado no sinaleiro, esperando. Cumprimentaram-se e conversaram um pouco mais. Depois de uma semana de conversas aleatórias a mocinha não sentia mais medo de Paulo e considerava um dos tantos que encontrava em seu caminho, como se estivesse na rua de uma cidade pequena onde todos se conhecem. Na segunda-feira a mocinha não viu Paulo, na terça-feira também não, nem na quarta e nem nas semanas que seguiram. Onde estava Paulo?
   Paulo abriu os olhos ainda sentindo o amargo sabor da madrugada. Não havia conseguido dormir e quando as primeiras horas da manhã trouxeram o sol, respirou aliviado. Nem tomou banho, não tomou café, vestiu um tênis apressado e saiu para o ar da manhã. Sentou na esquina do sinaleiro onde ele sempre encontrava a mocinha e esperou. Ela tinha que aparecer. Paulo ficou desde às sete da manhã até às seis da tarde sentado no chão, esperando, mesmo que não soubesse precisar. A mocinha não apareceu. Sua mente martelava uma cena na qual a mocinha se deitava com um mocinho numa grotesca e pornográfica cena de sexo, como nos filmes que assistia peralta durante a adolescência. Cenas de desprezo e ódio. Ele ficara louco de vez, suando frio, sentado no asfalto quente há horas esperando a vagabunda da ninfetinha que não viria ao seu encontro.
   Paulo foi encontrado duas semanas depois pendurado no varão de sua janela com o cadarço dos tênis amarrado no pescoço. Escrito em batom na parede branca estava: na esquina dos acasos a pressa me fez vítima. Vítima da ilusão chamada amor por alguém que sabia que eu existia, mas não via minha existência.  Quem disse que ninguém morre de amores?
   A mocinha esqueceu Paulo quando virou à direita na esquina.

A certeza da contradição

Ele de terno, estudante de direito
ela de letras e dreads no cabelo
se esbarraram a noite,
num acaso da vida
numa praça qualquer.
Ele rindo satisfeito
ela chorando em desespero
por alguém que não sabia se vestia branco
ou se virava violeiro.
Ele vinho, ela cerveja
ela morango, ele cereja
ele pediu cinema, ela queria feira
ele Outback, ela Parceria
ele escritório, ela folia
Quem sabe o Eduardo
 [não descobre que não era a Mônica, afinal?
Eduardo se encontrou com a Lua
mas Lua não quer saber do advogado.
Acha direito meio maçante
acha o violeiro mais interessante.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Calma alma minha

Cantando no corredor, sozinha
um silêncio que ninguém ouvia
Chovia lá fora
mas da janela pra cá não se tinha barulho

A sensação das pedras coladas nas folhas pela água
da terra sujando as solas dos pés
chuva de verão
pode sentir o cheiro até

e então a água inundou o pátio
e cruel arrastou-a pelo corredor
mas quão cruel ainda seria
se na água a moça não sentisse dor?

Abriu os braços e esperou o tapa
mas já não acontecia mais nada
quando abriu os olhou percebeu
que a tempestade era em sua alma

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Maçã

   Eu não estou em condições de lhe dar nenhum conselho, meu bem.
  Mal chegastes aos 17 anos e já defronta questões tão complicadas da vida, questões que eu, aos 47, não vi em meu caminho. 
   Ontem vi quando chegou em casa, lhe abracei durante o banho, cuidei de você durante a noite que foi tão difícil. Sonhastes com alguém, imagino. Você chamou seu nome incontáveis vezes, chorou e se abraçou. 
   Não beba mais maçã, meu amor.
   Nem maracujá.
   Nem limão.
   Muito menos a de morango.
   Mas maçã nunca, nunca mais. 
  De todas foi essa que sobrou de gosto em sua boca, porque maçã é pecado. É proibido. É convidativo.
   E você sabe, agora.
  Cuide-se, pequena. Porque ninguém mais vai cuidar de você.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013


I cannot forget

Nesta semana resolvi escrever na janela da minha alma
mas não tive tempo nem de rimar ão com ão
Andamos ocupados demais, tristes demais, vivos demais
para nos preocuparmos com coisas tão banais,
tão normais quanto falar e escrever

Eu imaginei nesta semana
imaginei histórias das quais não consigo prever o fim
Estar submissa a outra pessoa não me agrada
estou acostumada a subir a escada
de dois em dois degraus.
E me sinto engatinhar agora
e também acho que já está na hora
desta escada se desmanchar

Sei que eu já disse adeus várias vezes
mas espero que este seja definitivo
se nossa amizade é tão forte quanto dizes
não vai ficar mais tão esquivo
e constrangido com o que eu sinto

Antes eu queria te dizer
como fosse uma despedida
que o amor que eu sentia era real
errado, mas quem liga?
Quando eu dizia ''eu te amo''
era muito menos superficial
que a luz do sol que amanhece o dia

Ontem eu disse tudo isso enquanto você dormia
foi um ato um grau a menos que covardia
é que eu fiquei com medo que você fugisse
fui deitar meio vazia
acordei meio triste
não dormi direito, não sonhei o que eu queria
imagens borradas, nela você me dizia:
sou teu amigo e mais nada
você que é iludida.

Com o tempo, o tempo transforma tudo em tempo
me disse alguém uma vez
e eu já estou enrolando, vou parar de escrever
vou ver um filme
beijar alguém
e esquecer o que me disseram,
esquecer você de vez.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O dia anoitece

   Era algo que eu devia prever, eu presumo.
   Acordei com a boca amarga e você não estava ali. Demorei para abrir os olhos e quando fiz, me senti exausta. Estive com você a noite toda. 
   Tinha duas butter toffees na mesa da sala e um copo de água, o chuveiro estava gelado, não tinha café. Meus cabelos não estavam embaraçados e o formigamento na boca havia sumido. Olhei no espelho e o meu pescoço estava alvo, tão limpo como se nunca tivesse havido marcas. Apertei e não doía.
   Não sentia mais seu cheiro fresco e não tinha mais as lembranças da noite.
   Seu riso ecoou pela sala e eu tive vontade de voltar para a cama, quem sabe se eu conseguisse dormir... Eu poderia voltar a sonhar com você.
   O que era quase uma certeza. Todas as manhãs eu acordo com a impressão de ter lhe visto e não amanheço quando percebo que era tudo um sonho. Eu anoiteci para sempre.

Aquecimento sensacional

Entrei na lua com pé direito
de mãos dadas com o sol,
do universo virei prefeito

Mando nas estrelas
nos asteroides e nos planetas

Tenho o rei na barriga,
nos pés e nas mãos
por isso achei melhor
banir plutão, o planeta anão

Faço o que eu quero com a Terra
controlo a Via Láctea via satélite
todos me veem como fera.

Quando me avistam
todos somem
Com muito prazer,
meu nome é homem.


quinta-feira, 31 de outubro de 2013

I wish you were here (reflexão)

    "We're just two lost souls swimming in a fish bowl, year after year, running over the same old ground. What have we found? The same old fears."
   Tem música que eu ouço e penso: como eu não pensei nisso antes? Quem esse cara pensa que é pra expor minha alma desse jeito? É quase como se ele me conhecesse, como se me lesse. Aí eu descubro que não só eu, como milhares de pessoas agem e sentem do mesmo jeito. Centenas de milhares de bilhares de pessoas.
   Os sentimentos que mexem, que tocam, que bagunçam são os mesmos em todos e resulta sempre na mesma: solidão. Solidão, essa velha companheira do ser humano. Quando eu passo a noite em claro, de olhos secos, não sou só eu. Tem mais muitas pessoas pensando na mesma coisa e perderam o sono pelo mesmo motivo. Quando ouvimos essa música não há exclusividade de pensamento de suicídio. 
   O maior erro do ser humano é pensar que tá sozinho nessa. E outro maior erro do ser humano é pensar que não tá sozinho nessa. O homem é egoísta e não sabe lidar com as outras pessoas que se importam com ele; o homem nasceu pra viver em sociedade, mas se contenta com a solidão.
   Eu, por exemplo: estou fechada numa sala com muitas pessoas, mas tô recolhida na minha casinha imaginária, sozinha. Eu sou sozinha. E não sei lidar com quem se importa comigo. 
   Antes eu achava que eu era complicada, mas depois de um tempo parei de dizer que é culpa minha. O homem é complicado. Porque mesmo que não saibamos viver com os outros, precisamos deles e é por eles que nos isolamos.
   Por fim, era só pra dizer que Pink Floyd é uma banda desgraçada e que eu só aceito ouvir essa música se for na sua voz. And how I wish you were here.
   

Sem título

Tem dias que você amanhece sol pra anoitecer lua.
Ontem eu amanheci céu azul, fui deitar chuva.
Pra hoje acordar tempestade
e fazer sombra na rua. 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

A defesa de Colombina

Na fervura das cores
me vi perdida em vapor
da fumaça das dores
Arlequim me salvou

Pierrot chorou
fez de mim qualquer uma
nutre por mim ódio
difama à minh'alma impura

Mas não sabe ele
ou talvez saiba
e não assuma

que em hora alguma
Pierrot, na sua vida
fez de mim mulher única

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Palavra gasta

Pra um bom entendedor meia palavra basta
                                                         gasta
                                                         fala
                                                         marca
                                                         arrasta
E marca o tempo que falta pra palavra bastar.

O homem que roubou meu coração

   Já era tarde e eu andava sozinha numa rua pouco movimentada, até as luzes pareciam falhar quando eu passava, mas a noite era agradável e o ar era morno.
   Eu andava a passos rápidos quando o vi, veio gingando de leve, sorriso solto, empurrando a bicicleta, a jaqueta aberta até o umbigo, calça jeans e tênis. Parou e acendeu um cigarro. Já ensaiei um boa noite", vai que cola, não é?
   Então ele me viu e eu já fiquei toda eufórica, quase sorri, mas vamos manter a dignidade. Veio se aproximando devagar, sem tirar os olhos de mim. Quando estava há poucos metros tirou alguma coisa do bolso interno da jaqueta e disse:
- Boa noite, moça.
- Boa noite. - murmurei, tímida.
   Então alguma coisa gelada encostou na minha barriga quente e eu ouvi entre sussurros bem perto do meu ouvido:
- Se gritar ou correr vai tomar facada. Passa o celular e o dinheiro.
   E este foi o primeiro homem que roubou meu coração. E o dinheiro da janta do dia seguinte.

sábado, 26 de outubro de 2013

Distraídos venceremos

   Onde andava o julgamento quando esta prepotência precoce nos atingiu? Onde andava você quando eu estava a míngua minguando nossa vida. Seria este o fim?
   O fim de quê?
   O fim de uma relação instável que é relação por falta de um nome apropriado.
   Mal relacionado.
   O medo nos encarcera e nos esfrega a verdade nua da coisa não dita. Estava nua, mas você não viu.
   Despir as roupas e as máscaras, as mágoas esquecidas, as portas entreabertas que serão fechadas. Você é quem escolhe vir pra dentro ou partir.
   Silêncio na sua mente enquanto a minha ecoava desespero e, bem, os papéis se inverteram. Formalidade, falsidade, falta de idade, experiência, equivalência, dois pesos, duas medidas.
   Mentiras.
   Um milhão de amigos e nenhum deles fala a verdade, quatro pessoas e todas elas jogam e te diminuem a covarde, uma condição que nós aceitamos.
   É errado existir, entenda, para eles é errada a minha existência. Interesse, saliência, confiança, pobreza, sextas-feiras.
   Hoje não é um dia marcado, está marcado para ser mais um dia comum, enquanto você se esconde pra me ouvir, e finge que nada sabe, se esconde pra não ficar marcado na tua testa as minhas acusações, eu vou ali procurar abrigo em uma vida de verdade, longe das mentiras das suas amizades.
   E você fica aí, fingindo que vive, fingindo que não gosta, fingindo que convive, fingindo que não houve derrota.
   Fuja é do medo, não do meu olhar, é inocência demais mergulhar num rio e não se preocupar, eu sei.
   Mas já está na hora de você crescer, só os teus amigos estão rindo. O mundo não pára para te esperar.
   Só eu fiz isso.         

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Overdose de cafeína

Suor gelado, calafrio, 
ansiedade e arritmia cardíaca
Foi você quem causou isso em mim
e eu botando a culpa na cafeína

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

(In)coragem

   Estávamos há horas nos encarando pelo cantinho dos olhos.
   Horas não, segundos que pareceram horas.
   Se eu tivesse segurado sua mão, ele teria acariciado; se eu o tivesse beijado, ele não teria resistido; se eu o tivesse abraçado, ele apertava. Mas não fiz.
   Virei a cabeça e o encarei e tenho certeza que ele soube de tudo que eu queria fazer e não fiz, então ele fez por mim.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Sou um doido que estranha a sua própria alma

BICARBONATO DE SODA

Súbita, uma angústia...
Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma!
Que amigos que tenho tido!
Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido!
Que esterco metafísico os meus propósitos todos!

Uma angústia,
Uma desconsolação da epiderme da alma,
Um deixar cair os braços ao sol-pôr do esforço...
Renego.
Renego tudo.
Renego mais do que tudo.
Renego a gládio e fim todos os Deuses e a negação deles.
Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me
                           [no estômago e na circulação do sangue?]
Que atordoamento vazio me esfalfa no cérebro?

Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
Não: vou existir. Arre! Vou existir.
E-xis-tir...
E--xis--tir...

Fernando Pessoa

Olhei no espelho
e não me reconheci
Pobre de mim
que pensei que só eu não mudava
Dez anos num dia, envelheci.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Encarcerados

Duas pontas
   duas pessoas
      duas faces
         duas fases
             dois anos
                  dois planos
                Um amor incompleto
            uma alma dilacerada
      um nada
  Do vento,
o silêncio
                E agora?
               A hora passa sem passar
               a corda que os enforca
               e fecha a porta
               que ficou entreaberta
               pra só você caber.
               Só por favor,
                não esquece de se esconder.


domingo, 20 de outubro de 2013

Preguiça

Domingo a noite
eu tenho tanta preguiça
tanta preguiça
mas tanta preguiça
que a preguiça de ter preguiça
fez com que na preguiça do meu ser
não existisse mais preguiça.
E nessas linhas sobre preguiça
pra não dizer que fiquei com preguiça de falar de você
saiba que a preguiça de ter preguiça
permitiu que eu tivesse preguiça
de ficar brava com você.
Preguiça de não te amar. 

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Aurora

Me disse vai embora
e não olha pra trás
É agora!
Amanhã tem sol e vento novo
e nessa aurora
tem um par de olhos novos
esperando no querer
Eu olhei pra trás sim e disse assim:
o que é o amanhecer além de você?

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

SAI DO MEU ASSUNTO!

   Até pra escrever as bobagens que posto neste famigerado (ou não, risos) blog tem que ter muito talento. Neste caso, meu talento se resume a: como fingir que indiretas são arte. Só que no começo, lá em abril, não era assim: nunca ninguém tinha ouvido falar que a Luana tinha um blog, um dia eu postei um link e voilá! A primeira visita foi do cara pra quem eu escrevia. Injustiça ou quase? Mais que nunca eu me sinto uma adolescentezinha boba e apaixonada, é pateticamente patético. Tem um milhão de dúvidas na minha cabeça e  três zilhões de decisões que tenho que tomar, não só por ele, mas pela minha vida, porque sabe, eu tenho uma vida. Eu não sou deprimida, nem nada. É que as vezes eu fico assim, confusa. Como se eu só fosse resolver minha vida transformando meus problemas em equações. E, bem, eu não sei fazer cálculos de cabeça.
  Mas enfim, com tanta vida pra viver, eu perco sempre meia hora diária pra escrever aqui. Mas só tô justificando que eu não sou idiota, nem deprimida, que eu não estou triste com a minha situação, tô até bem conformada. Ontem fui até jogar com amigos novos, ganhei umas vezes e quebrei três unhas e até conheci um cara legal e trocamos coisas... hã, interessantes. E juro que não pensei nele com tanta intensidade (mas que eu queria que fosse ele colado naquele verão ali comigo, ah, eu queria... (Mas não era, azar o meu)). Mas uma coisa que eu peço, só uma vezinha, sem compromisso, sem nada, é que eu possa escrever sobre outra coisa que não esse amor que sinto que tá me transbordando, tá vazando pelos olhos; tudo o que eu escrevo tem a ver com "o mistério por debaixo de suas pálpebras" ou "como seu olhar é penetrante", "como seu cheiro é marcante" e etc. Tudo o que peço, seu moço, é que SAIA DO MEU ASSUNTO.
   Obrigada, de nada, beijos e bom dia.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Sem senso

Talvez não seja nessa vida ainda
Mas você ainda vai ser a minha vida
Sem ter mais mentiras pra me ver
Sem amor antigo pra esquecer
Sem os teus amigos pra esconder
Pode crer, que tudo vai dar certo

Sei lá, cansei de forçar
Entreguei nas mãos do Pai
Estrela que me guiará
Pedi forças pra continuar
Sem você
Se não for pra ser, não será
Desisti, mais ou menos
não é desistência, é não persistência
Hoje o sol nasceu num céu azul
Milagre, por sinal
O sol sempre vem com você
Eu tô vivendo um sonho mais que irreal
Escrevendo palavras sem sentido
esperando que você leia e entenda
que eu desisti sem querer
pra não te ver partir
pra não pensar que a vida é má
que eu te perdi sem nunca te ganhar

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Estúpido Eros

Hoje a vida me olhou de forma diferente 
Não fui eu quem pra ela olhou
Descobri o segredo de Eros valente
Mirou a flecha e por castigo acertou

De tudo é que eu não vou reclamar de novo
Mas se então é pra pedir,
pro meu coração peço repouso
Porque de anjo esse anjo não tem nada
Um carrasco é o que essa praga virou

Ele acha que faz bem pra todo mundo
acertando adoidado e as vítimas procurando amor
De amor, o fabricante, ele não tem nada
O cupido é sim quem fabrica a dor

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Prosa em verso torto

Hoje não é um bom dia
Olhei pro papel e ele não falou comigo
Não respondeu aos meus pedidos
de boas palavras pra representar meus sentimentos.
Na minha cabeça há um vendaval de coisas erradas
e os fatos vêm comprovar os pensamentos.
Aconteceu de um jeito torto 
e eu queria consertar
Mas não depende só de mim
O que me resta é prosear:

   E enquanto eu me sinto assim, vazia, faço minhas as constatações do Anitelli: "metade de mim agora é assim: de um lado a poesia, o verbo a saudade, do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim. E o fim é belo, incerto..." imprevisível.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

  A alma pede calma
                         a hora passa
                                      a alma se afoga na raiva
                                                                       e devora a paz

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Metamorfose psicológica

Aproveita o dia de sol
dança embaixo da sua luz
porque depois que a lua chega
tudo à angústia se reduz

sábado, 5 de outubro de 2013

À mercê

Prevejo uma madrugada vazia
a saudade vai vir me esmagar
Enquanto isso você estará dormindo
um sono tranquilo, decidido a evitar
essas preocupações tão banais
tão irreais, tão distantes de você.
E minha intenção não é tirar seu sono, juro
E nem sei porque essa minha fissura em te fazer saber
mas eu quero que você saiba
que é por você que eu fico à mercê.

Amanhã eu vou sair
durante a semana também
final de semana que vem vou de novo
Vou conhecer pessoas,
beijar caras, seduzir garotas
E no final, eu vou pra casa com você
Enquanto isso você estará dormindo
um sono tranquilo, decidido a evitar
essas preocupações tão banais
tão irreais, tão distantes de você.

Los hermanos, palavras cruzadas, Serpentes a bordo e fim da paciência

Eis que no sábado a noite não há nada a fazer a não ser ouvir Los Hermanos e fazer palavras cruzadas. Meu convite de grego. Foi meu tio quem me chamou. Minhas irmãs, meu tio e eu fazendo palavras cruzadas. 
De repente enjoou, fomos fuçar os canais da TV:
- O que tá passando? - perguntou a inocente Thaynná.
- Serpentes a bordo. - respondeu meu tio.
- E sobre o que é? 
Vira então a cabeça a fissurada Gabriela e responde: Serpentes a bordo, Thaynná, é sobre elefantes num navio.

Valeu Gabriela, você é a minha garota. 

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Ora bolas

Ora bolas
O humor de
MARIO QUINTANA

Edição Pocket da L&PM, um livro tão gostoso de ler, tão gostoso que me deu vontade de enfiá-lo na boca.
É sério, deve ser algum tipo de fagia que eu estou desenvolvendo. Eu tive uma vontade absurda de enfiá-lo na boca e mastigar, lamber, esfregar na cara, enfiar no coração, sei lá.
Tudo isso pra dizer que recomendo. 

Eis o bandido.

Saudações,

    Querido Deus,
    Eu sei que eu converso com voc.. Ops, o Senhor, todos os dias, mas é que hoje eu tô precisando de uma ajuda especial e mais formal. Eu sei que nos últimos anos eu venho enchendo seu saco (que já deve estar explodindo) com pedidos de proteção pras pessoas que convivem comigo e para mim em especial causdiquê também sou tua filha.
    Mas ó, é que eu nem consegui dormir direito essa noite. O Senhor não deve ter visto porque já tá bem ocupado cuidando de uns 7 bilhões de filhos. Eu também deveria reclamar, porque o Senhor deuzolivre viu, teve uma penca de filho e quer dividir a atenção entre todos eles e não consegue dar atenção pra nenhum direito. É que eu tô me sentindo abandonada ultimamente e olhando pros meus outros irmãos, tanto os conhecidos como aqueles que eu encontro nas ruas, vejo que eles também se sentem assim... Resolvi escrever esta carta pra reclamar.
    Já não acha que aquelas pessoas que andaram descalça na chuva ontem não molharam os pés demais? Que aquelas pessoas que se esconderam nas marquizes já não se esconderam demais?
    Papai, eu vejo gente chorar e morrer à míngua, gente que só tem o Senhor.
   Ontem eu sentei num meio fio pra esperar a chuva passar e tinha um homem molhando os pés na poça, perguntei se ele não sentia frio e ele disse que não, que se o coração dele tava quentinho, ele não se importava com a pele.
    Eu até chorei. 
    Não quero ser apelativa, mas acho que teus filhos já sofreram demais. Ou salva todo mundo, ou manda logo um dilúvio pra recomeçar esta Terra do Senhor.
    Se bem que com a chuva que caiu ontem, acho que o Senhor começou o dilúvio por Curitiba.

Att,
Uma das tuas MUITAS filhas
(é mulher pra caralho, meu Deus)

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Adendos e apêndices e notas de rodapé


Contradição

Noite passada eu não te vi
Talvez este seja o sinal
De que a realidade se apossou de mim

Por que as vezes eu sinto
que você me enrola
e se enrola todo
nos pensamentos que te batem a porta?

As vezes soa a mim
que você é só mais alguém que inventei
e que nessas noites sem fim
eu sou pra você só mais alguém que passei

Lembrei de ti noite passada
contigo eu não sonhei
Talvez eu esteja mesmo errada
mas não fui só eu que errei

E assim como eu não consigo escapar
você também não vai
as palavras não são válvulas, querido
e a música é bem mais que títulos

Se você vem até aqui pra me encontrar
Saiba que é um trabalho duro p'ra nada
Eu não estou só nas tuas e nas minhas palavras
Eu estou nos teus livros, teu relógio, teu sofá da sala

Mas pra mim isso não serve
é uma contradição, isso diverge
do nosso acordo tão bobo
somos um do outro, amor, e somos de todos

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Uma parte de Luana é Ana

   Quem é que vive sozinho neste mundo não é mesmo? Quem é que enfrenta sozinho os açoites da vida sem ficar louco, sem ficar triste, quem é que grita sem ficar rouco.  Ninguém chora sem esperar um abraço, sem esperar que um pedaço de si desmorone se alguém não estiver ali, em pé, amparando e você esperando que ele não te abandone. Eu não enfrentaria o corredor de espinhos que é a minha vida sem as pessoas que me dão as mãos. E nesse corredor de espinhos há aquelas que me impulsionam a continuar e enfrentar cada ramo com coragem, há aquelas que seguem comigo durante todo o caminho e há aquelas que estão me esperando no fim para cuidar dos meus machucadinhos.
   E sem essas pessoas, eu não seria ninguém. Já tinha desistido na metade.

Ana, que me impulsionou a continuar, segue comigo por todo o caminho e que eu quero que esteja lá quando tudo isso acabar. Que há 18 anos vem sendo meu anjinho da guarda, mesmo que a gente só se conheça há 4. Feliz Aniversário. Eu te amo.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Características que não se mudam.

Eu e meu dom de encontrar paz nos braços das pessoas mais confusas.

Meio minuto

   Ela veio correndo perdendo mochila e livros e deixou cair uma garrafa de água e um papel, pensou em voltar eu acho, porque deu um passo para trás. Devia estar muito atrasada porque desistiu e subiu de três em três degraus as escadas. Confesso, mostrou uma parte da calcinha. Ela estava de vestido (e que vestido bonito).

   A fila do jantar era longa e já durava cinco minutos quando eu ouvi uma risada alta e fina, olhei para trás meio irritado e me surpreendi ao ver que era a mesma moça de hoje à tarde, com seu mesmo vestido florido e coxas grossas. E nossa, como era linda! Tinha o cabelo muito liso e de um castanho quase loiro. A segui por todo o refeitório e deixei algumas pessoas passarem na minha frente na fila no buffet para ficar perto dela e ouvir sua voz. Só de curiosidade, sério. Porque a risada dela era muito irritante.

   A perdi de vista quando fui reclamar do frango meio cru e muito desanimado fui sentar com uns amigos no fundo do refeitório. Entre um agrião e um pedaço de frango meio cru nossos olhares se encontraram, e ela, na minha frente, logo desviou a cabeça.

   Três semanas depois eu precisava de um livro na biblioteca. Mas onde está esse diacho?! Estava concentradíssimo quando houve um estrondo numa das cabines de leitura, e lá estava ela se desculpando por derrubar o notebook da amiga em meio a uma enxurrada de sibilos de pedidos de silêncio. Não contive a risada e fui ajudá-la. Ela não estava nenhum pouco vermelha, como pode?
   Quer tomar um café? Saiu antes que eu pudesse pensar, e antes que eu pudesse assimilar a pergunta que tinha feito ela aceitou. Como assim? Ela aceitou? Coloquei a mão nos bolsos, era bom que eu tivesse três reais para pelo menos pagar um café a ela. Deizão. Que beleza, dá um capuccino.
   Nós já estávamos descendo do elevador quando eu me toquei que estava levando a moça bonita dos cabelos castanhos para tomar um café na cantina. Só não posso contar uma piada muito engraçada, se ela der aquela risada de novo vai me rachar a cara de vergonha.

   Onde você mora? No centro. Eu também. Você curte indie? Fui no Lolla. Que inveja, vou ano que vem. Vamos juntos. Seus olhos são lindos. Gostei do seu cabelo. Quer mais um café? Acho que um chocolate. Já venho. 
   Ela sorria muito, muito mesmo e quando eu contei uma piada ela riu e eu achei a risada bonitinha. Encantadora, na verdade.  Não, você está se apaixonando? Amor a primeira vista? Nunca. Vou pagar esse chocolate e dar no pé, inventar alguma aula. Quanto custa? Mas quatro e cinquenta é um roubo. Ela está lá, leva o chocolate, troca mais meia dúzia de palavras e vaza. Talvez um beijo. Um beijo e vaza. Só pra não perder o deizão. Teu chocolate. Obrigada. Que beijo bom. Não, não goste. Mais quinze minutos e tchau. Linda, tenho que ir, tenho uma aula. Ok, a gente se vê. Te adiciono no Facebook. Tá. Tchau.

   Duas, três semanas, um mês. Fui pra aula num horário que eu já não ia há um mês, vou falar com a moça, que atitude estúpida. Um beijo e tchau, ela nem vai querer olhar na minha cara. Talvez ela tenha gostado de mim também, se eu inventar uma desculpa, ela aceita. Vou dizer que, sei lá, estava apaixonado demais e com medo. Ela vai cair na hora. Subi as escadas de três degraus e cacete! Ela estava lá, toda linda, de vestido colorido e chega um cara equilibrando o cigarro e o copo de café numa mão só e no outro toda a cintura dela bem apertada entre músculos. 
   Vadia.


segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Desisto


de existo

                                      chega disto
insisto
bobagens
                       fico
          preciso disso

É fria esta estrada e eu não quero mais me embrenhar neste vento de noite escura. Mas como se livra de um mal que eu mesma criei e procurei? 
Só você sofre com isto, garota, ninguém mais sabe da existência desta viela escura que você chama de estrada.

Mal
quisto.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Sobre amor e ecologia

   Hoje, no caminho do trabalho, parecia que tudo no dia estaria para dar certo. Esqueci de colocar o celular para despertar e mesmo assim acordei no horário, saí de casa apenas dois minutos atrasada, o que significava que eu poderia aproveitar "as belas paisagens" do caminho, fiz uma combinação bacana de roupa, encontrei o moço bonito que me cumprimenta sempre,... Na esquina da empresa pisei num buraco que foi feito especialmente para as pessoas cairem, porque aquela porcaria tinha o exato tamanho do meu pé (talvez tenha sido feito para eu cair). Aí tive que me obrigar a parar e me agachar - no meio da calçada - para limpar meu tênis novo de estampa de oncinha que ficou todo, repito, todo sujo de barro. Parecia coisa de filme: o carro parou examamente ao meu lado e um guri desceu, devia ter seus quatorze, quinze anos, deu três passos e alcançou a lixeira, jogou lá um papelzinho de bala. Quando estava voltando para o carro, desviou de mim, entrou e partiu no sinal amarelo. 
   Que coisa mais idiota. Ele fez, provavelmente, o pai dele parar o carro para ele jogar um mísero papel de bala. Num mundo onde vemos tantas pessoas acumular lixo dentro de seus automóveis ou simplesmente jogá-lo pela janela. Mas que porra, ficou igualzinho redação de ENEM esta parte. 
   Mas eu, como romântica incorrigível, com essa carinha de - quase 18 - e espírito de 140, logo associei com os meus problemas de coração. Eu vivo acumulando papel de bala no meu automóvel cardíaco, já cogitei a hipótese de simplesmente jogá-los pela janela, como a maioria das pessoas fazem. O problema é que a ecochata aqui é absurdamente incapaz de esquecer ou ser indiferente. Eu me envolvo com o meio ambiente e com seus habitantes. Eu amo. Se eu pelo menos conseguisse depositar esses papeizinhos no tempo certo, no lugar certo, eu conseguiria ser mais limpa e contribuir com o meu mundo. 
   Quando eu levantei do chão, revirei os bolsos e achei dois papeis. Um era de bala de iogurte, passei três anos chupando essa bala (sem trocadilhos, por favor) e há um ano e meio que esse papel estava no bolso, aguardando um momento de voltar. Joguei fora sem remorso. O outro papel de bala era um viajante de dois estados, mas esse eu não tive coragem de jogar. 
   Deixa eu guardar só um papelzinho, vai? Prometo que os outros eu não deixo acumular. :(

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Ego

                 na lua há dias       
               os dias passavam              
e a nalua ria

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Pra dizer que é covardia

Nos títulos,
amigos,
está implícito 
tudo o que está explícito.
E mais:
há um vínculo
direto com o vinco
dos meus pensamentos sucintos.
Que sinto,
está ancorado no meu espírito
É quase um vício
E repito:
que no título 
tem tudo o que está implícito
no que deveria estar explícito
mas eu não disse
porque eu não consigo

Musique de mes sentiment

"Il y a des mots qui me gênent des centaines de mots des milliers de rengaines qui ne sont jamais les mêmes. Comment te dire? Je veux pas te mentir tu m'attires et c'est la que ce trouve le vrai fond du problème. Ton orgueil, tes caprices, tes baisers, des délices, tes désirs, des supplices, je vois vraiment pas où ça nous mène. Alors, on se raisonne,c'est pas la fin de notre monde et à tort, on se questionne encore une dernière fois. Je ne sais pas comment te dire,j'aurais peur de tout foutre en l'air, de tout détruire. Un tas d'idées à mettre au clair, depuis longtemps mais j'ai toujours laissé derrière mes sentiment.Parfois je me dis que j'ai tors de rester si passive, mais toi tu me regardes, moi je te dévore.Mais c'est parfois trop dur de discerner l'amour, mon ami, mon amant, mon amour, et bien plus encore."

Joyce Jonathan - Je ne sais pas

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Ensaio sobre a literatura primaveril (primavera literária)

   A primavera é, com todo o meu coração, a estação que mais gosto e mais odeio. É exatamente o mesmo sentimento que tenho pelo meu professor de literatura. 
  A primavera é, assim como ele, de boa aparência (ai, que vontade de rir) e também vem cheia de promessas no mês de setembro: promessas de momentos bons, de lições interessantes, promessa de nos ensinar a viver de um jeito um tiquinho mais romântico e mais lírico. Então, quando chega lá por mês de outubro, vem as crises alérgicas pelo pólen das flores, as cores já começam a enjoar, o ar fica seco e o clima não se decide se esquenta ou fica frio. Eu passo a contar os dias para o verão (quantos dias faltam, mesmo?). Mas parece que as pessoas não pensam assim, elas se apaixonam na primavera. Isso nem é estatística de filme de comédia romântica dos anos noventa, as pessoas realmente se apaixonam em setembro e outubro. E eu, uma apaixonada de muitos verões atrás, fico só observando (com frieza, adimito) essa enxurrada de mudanças no status de relacionamento no Facebook. 
   Entretanto, eu me apaixonei no verão por uma pessoa que veio na primavera. Por isso a primavera é, com todo o meu coração, a estação que mais gosto e mais odeio. 

Ps: não me apaixonei pelo meu professor de literatura, mas precisava desabafar sobre ele também.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Adolescência

           Juventude
                       é ter
          a
etern(a)idade
           para amar.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Saudade

   O cenário era a praça Osório, o clima, frio. Dezessete horas e trinta minutos da tarde do dia dezoito de setembro. Tava ventando pra cacete ontem no final da tarde. E curitibano é só por um suéter por baixo de um casaco mais comprido que já se sente o astro europeu, se sente meio melancólico, meio cult. Falta só sentar em algum café da rua XV e pedir um expresso. Eu já havia chegado na Boca Maldita, já e pensando mal de todos os curitibanos pseudo cults que passavam por ali. Até os moradores de rua tinham aquele ar de arrogância e, naquele momento, isso não me agradava em nada. Mas enfim, eu já havia chegado na Boca Maldita quando aquele aperto no peito me fez chegar a ponto de parar, sentar num banco, chorar e ter vontade de vomitar. Fiquei ali sentadinha, enroscada, branca feito papel, esperando que o mundo virasse em quatro paredes que avançariam de todos os lados para me esmagar. Nem me importei com a reação dos outros transeuntes que com certeza pensavam que eu era mais uma adolescente problemática digna de dó. Tirei, então, o caderno da mochila e escrevi. Escrevi palavras sem nexo, palavras que tinham todo o sentido do mundo, escrevi segredos, escrevi o rumo do mundo, fiz adivinhações e preleções, fiz rimas, fiz palavras vazias que estavam cheias de significado; escrevi um nome, dois, até três. Escrevi furiosamente até um risco meu atravessar duas ou três folhas, as páginas ensopadas de lágrimas. Não é querer ser piegas, mas elas realmente encharcaram. Chorei alto, chorei de soluçar. Aquilo acabou com a mesma rapidez com que veio: de repente, com a noite já fechada, fechei meu caderno e levantei. Sentei num bar há três quadras dali com uma sensação angustiante de vergonha. Todos me olhavam. Não sei se tinham visto a cena patética de desespero no meio da rua, ou se simplesmente se assustaram com a minha cara inchada. Fiquei pensando enquanto durava o café expresso no que diabos tinha sido aquilo? Estranha, diferente, efusiva, sempre fui. Mas louca, só no sentido figurado, mesmo. 

   O café já havia esfriado quando eu percebi que o que eu sentia era saudade.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Fingi na hora rir

Pararia de escrever se me ouvir você fosse
Hoje, só o que eu tenho é um "fosse" de fossa
Uma foice mal dada, um som, uma bossa.
Eu entoo para sua sombra na parede na sala
Para sua foto no porta retrato do quarto
No prato da cozinha, nos muros pixados da periferia
Eu faço uma rima ruinzinha e levanto a cabeça com o ar
"não me peça para ir, não vou te deixar" é o que eu te digo
Mas quem vai é você.
Sonhei com a tua voz e com teu jeito de música
tuas dedilhadas de violão, teu meio tom
teu sorriso torto e tua mal disfarçada cara de bobo
Tuas interpretações mal feitas me atormentam a noite toda
E enquanto dura a noite a coragem me toma
No outro dia te falarei das sombras que me assombram
e quando amanhece desde cedo já encaro tuas fotos que nada somam.
E a coragem some com o breu da madrugada
E mascarada a rotina me segue e eu juro que sou tua amiga
Me perdendo em peitos estranhos procurando o teu
Sorrindo em outras bocas esperando ser a tua
que Deus me perdoe desta procura
desesperada de me livrar dessa sina escura, desta rua fechada, sem saída
Mal fadada, porta fechada para mais uma desilusão.
Enquanto de três em três meses pego a tua mão e coloco no meu peito triste
Esperando que você escute mais meu coração
porque eu já não o ouço mais.
E de mais a mais, de dezembro a dezembro, vou procurando aqueles haicais
Aquelas três linhas que te digam tudo
Que possam, de algum jeito, te dizer do jeito mudo
que nada mudou, e que o meu gostar de você já se espalhou pelo mundo.

sábado, 14 de setembro de 2013

O poeta

O poeta não fala
O poeta não mostra
O poeta não chora
O poeta não gosta

O poeta não disse
O poeta não vive
O poeta não pensou
O poeta não passou

O poeta não sente
O poeta mente

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Amor de lírica latina

Não fingirei ser Lésbia
para que sejas meu Catulo
Coloque sátiras ao meu respeito
em teu peito duro

Que nos teus versos
haja apenas afeto
nem que não chegue nem perto
de serem a mim direcionados

Mas saiba que cada palavra
toda linha desenhada
foi a ti preparada

Prometo-te que nada direi de muito forte
farei apenas pequenos versos
de um amor de grande porte

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Escape

Vai, Lua!
Diz alguma coisa que é pra gente dar risada
Bota um sorriso nessa cara
Vai logo
Pega uma alegria qualquer e escancara
Não fique lembrando das coisas tristes
Ou não fique lembrando de qualquer coisa
que te tire sorrisinhos involuntários
Lembra logo de uma mancada
e gargalha
Conta uma piada
que a gente ache engraçada
Disfarça estas rugas
que elas não te levam a nada
elas não nos fazem rir
Vai, Lua!
Tá carrancuda assim por quê?
Você não queria deixar os amigos teus?
Não esjoastes da mesma rotina?
A vida é assim mesmo, ó Lua
Hoje ri, amanhã também, e depois mais ainda
Se ficares chorando uma partida perdida
nunca te recomporás.
Vem ó Lua, curar amores perdidos com risada
Uma partida de truco, uma cerveja, uma pegada
Não te garanto uma companhia cerrada
Mas uma cama quente
Aqui, se sentirás amada.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Dos segredos, o maior

Me diga quem amas
E eu lhe direi a quem tu feres

Espelho

   Ela é ruiva de sardinhas, usa botas de aventura e uma camiseta dos Doors. Foi vista carregando um livro grosso, de longe eu vi que se tratava de Guerra dos Tronos. Tem um sorriso tão descontraído e ontem eu a vi distraindo-se, de longe, na atividade de observar. Parece que ela observa muito e isso também me encanta. Seu jeito de observar. Longe dos exageros que normalmente sua idade carrega, é uma menina adulta, 14 anos e enfeitiçada com e pelo silêncio. Gostaria eu de ter coragem de acariciar seus cabelos de ferrugem e lhe alertar sobre o mundo. O mundo é um moinho, Cartola disse. Se eu tivesse ouvido não teria desencantado. O mundo é um moinho, moça dos cabelos de fogo, me ouça. Você que me tem em seus olhos e já possui minha posse, me escute.

sábado, 7 de setembro de 2013

Areia da praia eu gosto também, só não acho legal a de caixa de gato

Ô sensação boa fazer xixi depois de um longo tempo apertado.
E no calor tomar banho gelado
e ir dormir banhado depois de um dia cheio
Fazer o pé de freio
da bicicleta na descida
Tomar chá quentinho e melhorar de gripe recolhida
Espirrar aquele espirro preso
Subir na balança e ver que perdeu peso
depois de um fim de semana de exagero
Beijar tua boca mês a mês
e ver você voltar toda vez
Matar as saudades com um abraço
na cintura passar o braço
enquanto o outro braço pesa no seu ombro
Fazer o dia durar mais que o tempo normal
ter fotos bonitas e roupas coloridas no varal
fazer uma rima legal
e ter um namorado virtual
aproveitar a vida real como se fosse a ultima vida vivida
tirar a casca da ferida sem fazer sangrar
sem partir o coração, amar
e se partir, saber que valeu a pena
solucionar um problema e entender aquele teorema,
aquela equação que na sala de aula você não pegou
Lembrar da infância com alegria
e da adolescência com nostalgia
e saber que a vida
não podia ser melhor vivida.


Não seria eu (com acompanhamento musical e tudo)

Eu queria poder explicar, mas eu não posso.
e se pudesse, não seria eu
eu queria poder ir com calma
mas se não fosse a efusividade
não seria eu
eu poderia esquecer teu nome amanhã
mas se assim fizesse,
não seria eu
eu gostaria de não transformar tudo em drama
mas não seria eu
eu poderia não insistir numa história que não existe
eu seria um bocado mais feliz
ou pelo menos menos triste
mas não seria eu
E eu tenho a impressão de isso só persiste
porque eu sou eu
e eu sou eu quando eu tô com você.

Sábado

Mas amor, não vou escrever aos sábados. Nos sábados de sol eu vou p'ra fora buscar você; na segunda-feira, então, na penumbra do quarto, eu relembro e transformo as lembranças em palavras. Hoje, no entanto, eu vou buscar o sol. Mesmo que não você, ainda há tanta coisa lá fora.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Obviedades

   Naquele momento, observando as estrelas, ela segurou minha mão e sussurrou em meu ouvido: "não solta, por favor". Eu não disse nada, talvez ela pensasse que o que eu sentia era indiferença, mas é que o pedido era tão ridículo. Ela não precisava pedir para eu não soltar sua mão, porque eu simplesmente não era capaz de fazê-lo. Se ela deixasse eu mergulhava na fossa do Universo segurando sua mão. Mas como era possível pensar nisso se eu a tinha ali, embaixo das estrelas?

Who says music...

"Sempre que der
mande um sinal de vida de onde estiver dessa vez
Qualquer coisa que faça eu pensar que você está bem
Ou deitada nos braços de um outro qualquer que é melhor
do que sofrer
de saudade de mim como eu to de você, pode crer
Que essa dor eu não quero pra ninguém no mundo
Imagina só pra você
Quero é te ver
dando volta no mundo indo atrás de você, sabe o quê
e rezando pra um dia você se encontrar e perceber
que o que falta em você sou eu
Deixa pra lá
que de nada adianta esse papo de agora não dá
que eu te quero é agora e não posso e nem vou te esperar
que esse lance de um tempo nunca funcionou pra nós dois"


5 a seco - Pra você dar o nome. 

Praça

Debaixo do sol
ounvindo a canção dos índios
somos todos os mesmos filhos
que vieram do pó

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Troianos também merecem ser felizes

Tive uma ideia, um insight
estava eu estudando gregos e pá!
Tenho um plano:
faz assim: eu cuido de ti
você só fica aqui
Que é pra eu poder te desenhar
e depois teu rosto beijar
na carne ou no papel
sentir teu perfume na minha roupa
fazer o quarto virar céu
Depois eu te juro que te deixo livre
e também deixo minha mão estendida
Se você quiser ir você vai,
se você quiser você fica.

O processo prático do ciúme

   Numa terra não muito distante da nossa (aliás, mais perto do que você imagina) localiza-se um quartel general chamado Coco. No Coco mora o Cérebro, um cara mau, sem escrúpulos, ambicioso e orgulhoso. Mas o Cérebro vive num impasse: ele sabe que toda a terra depende dele para se continuar constante, mas não só dele, depende também do Coração. O Coração é aquele mocinho de filme idiota de comédia romântica, ingênuo e inconsequente que vive em função dos sistemas que movem a terra. Como o Cérebro sabe que não pode extinguir o Coração, ele vive para atazanar a vida do coitado, fazendo os outros sistemas o prejudicarem esporadicamente.  O Coração e o Cérebro dominam por serem os únicos caras a se relacionarem com o mundo exterior e a interação dos outros sistemas com esse mundo depende deles (se é que você me entende). Num dia desses, o Cérebro em sua ronda matinal localizou outras terras, terras estas que fizeram o Coração descompassar e mesmo que tentasse disfarçar, já era, o Coração era tomado de sentimentos que os nem órgãos (nem o Cérebro) conheciam. Até o Cérebro eliminava substâncias diferentes para todos os outros sistemas e de repende a terra começou a ficar mais fértil, mais corada, mais disposta, mais saudável. O problema é que todos atribuíram ao Coração o mérito de ter salvado a terra e passaram a chamar aquele período de paixão. O Cérebro então passou a experimentar sozinho a sensação que estava guardando a tanto tempo: a inveja. E tomado pelo sentimento mais destrutivo do planeta de todas as terras o Cérebro foi além da traquinagem. Em mais um dia em que o Coração enviou borboletas para o estômago para representar a ansiedade que sentia, o Cérebro avistou as outras terras causadoras do conflito já tomadas por outro Coração, outro Cérebro que conviviam em perfeita harmonia, como se um sistema fosse feito para se encaixar no outro. Então, vendo que sua chance era única e perfeita, o Cérebro convocou as baratas e mandou-as ao estômago, enfraquecendo o coração e os outros sistemas amigáveis a ele. O Coração continua tentando se recuperar, muita coisa aconteceu às suas terras que previam uma melhora cardíaca. Porém, cada vez que isso acontece, o cérebro envia as baratas que sempre acabam com as borboletas, não importa quão forte elas são. Este processo foi batizado de ciúme e se você, outra terra, me disser que é mentira eu vou dizer então que a culpa é sua por liberar as baratinhas do ciúme do meu cérebro.