sexta-feira, 23 de maio de 2014

Mais café do que leite

Saí do trabalho às 17h30 e fui correndo para casa, sem subjetividade, apenas literalidade: eu fui, literalmente, correndo para casa. Minha última refeição tinha sido às 6h30 da manhã, entre uma discussão e outra com meu namorado sobre a margarina que ele não queria misturada no queijo em seu pão francês. Para encerrar a discussão, comi o pão que tinha feito e deixei que fizesse outro. Outro pão, outro café com leite (mais café do que leite (mas muito açúcar)). Então, enquanto assistíamos ao jornal, iniciamos uma discussão sobre a margarina, o queijo e o pão. Meu café-da-manhã foi bem saudável. Correndo no caminho para casa deu saudade do café-da-manhã e ansiedade pelo próximo. Era a única refeição que fazíamos juntos, discutindo sobre a composição do sanduíche, o equilíbrio perfeito entre café, leite e açúcar, e, em alguns dias, enquanto passavam notícias esportivas, ele me explicava algo sobre futebol, o campeonato europeu, como odiava o Cristiano Ronaldo e adorava o jeito do Neymar Jr. jogar, falava sobre seu medo de passarmos vergonha durante a Copa e sobre como nem ligava mais para o Coritiba. Atravessando a rua senti cheiro de café. Deu saudade. Deu fome. Às 18h30 eu precisava estar no Bigorrilho para encontrar meu aluno particular para mais uma aula de redação, era 17h50, eu estava no Água Verde, correndo para casa. Foi a primeira coisa que descobrimos em comum, o primeiro índice a promover o sentimento que atacou ali: o amor por café. Descobrir sabores, pequenos bistrots, tipos de leite, sem leite, com ou sem açúcar, em momentos oportunos e inoportunos. Lembro que um dia ele foi jogar bola no domingo de manhã e me deixou dormindo e, bem, era domingo, então quando ele chegou, lá por meio dia, eu ainda estava dormindo. Senti o cheiro de café num meio termo inconsciente e algum tempo depois ele me acordou todo inseguro, com duas canecas fumegantes nas mãos, o cheiro fresco de café forte e perfume Malbec e o maior sorriso do mundo "você gosta de café, né?".
Sim, meu amor, eu gosto de café. 
Cheguei em casa afobada, suspirando, lutando com os pulmões, desastrada, ofegante. Mal entrei na sala e senti o cheiro fresco de café e perfume Malbec, o maior sorriso do mundo "você quer café, amor?"
Não, agora eu quero a vida com você.
Mentira. Eu quero café sim. Mais café do que leite, mas pouco açúcar, por favor. 

Inevitável interrupção

Têm janelas imensas nesses teus olhos
me enxergam, me devoram, me espalham
Antes eu te via como redenção
hoje eu nem te vejo mais

Quem foi o monstro que te privou de mim
onde esconde o dragão que te levou?
A qual magia se entregou por fim
Por que não gritas a aflição que sentiu?

Dentre tantas as perguntas borradas de dor
há o lamento que responde a todas elas:
foi o destino que te arrancou de mim

Com o drama da situação não pude me despedir
mas ah, como foi doce, tão doce quando o contínuo
que doce foi o nosso fim

domingo, 13 de abril de 2014

À dona Perdição

Havia uma pedra no meio do caminho
catei ela e pus no coração
mal imaginava que neste caminho
a pedra aqueceria o que esfriou

Eu esperava ficar protegida
e o mundo na rocha isolou
a pedra virou papel tomado a linhas
a frieza a poesia inspirou

Saudades do tempo iludida
o amor para mim iluminou
estou prestes a pedir por ajuda
não sabia que amor amarrava a forca
e a corda chicoteava o domador

Socorro, Marilia, socorro
que perdida entre seus seios morro
ensina-me a lidar com o saber
que por entre seus dedos escorro

segunda-feira, 31 de março de 2014

Ilusão

   Dizem que aos 18 anos você não sabe o que é amar. Bom, também me disseram que aos 12 eu não sabia... E provavelmente aos 30 me dirão que eu ainda não terei bem certeza do que é. Certeza, certeza eu acho que nunca vou ter mesmo. Mas de uma coisa eu sei: enquanto houver momentos assim com você, seja em um bistrô com um mocaccino, na nossa cama com um café e um Doors, ou na rua com o vento no rosto, eu sei o que é amor e o encontrei aos 18 anos de idade. Porque pessoas como eu já nascem sabendo amar, e, se o conceito de amor é uma ilusão, então rezo para morrer iludida. Iludida e ao seu lado.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Enfim liberta na prisão

O dia nasceu trazendo escuridão
não imaginei que um eclipse solar
não trouxesse solidão
nunca imaginei que a luz apagada
me fizesse viajar além
das janelas fechadas
que me lembram que alguém
as mantém lacradas
para eu ficar bem

quarta-feira, 19 de março de 2014

Next level

   Começou? Sim, caros, a vida chegou. 
   Chegou trazendo uma casa nova no centro e um emprego a mais.
   A responsabilidade bateu.
   Ontem quando entrei em casa não senti mais como se fosse minha casa... Não me vi mais deitada naquela cama box, meus livros pareceram deslocados naquela estante, meu reflexo no espelho era o de visita. E vou ser visita até entrar naquela casinha de cômodos pequenos, de mãos dadas com o meu amor e transformar aquilo num lar. Num lugar habitável e quente. Quando eu disser que aquela cama de casal e aquele armário de mogno são nossos, então a vida sorriu pra gente.
   Loucos, eles disseram, vocês vão voltar na primeira semana.
   Não se desiste da vida assim, em uma semana. É loucura? É. Não nego. Mas mais loucos ainda são os que não têm coragem de tentar. Tô vivendo bem, vou sair sem olhar para trás e procurar minha felicidade. 

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Reflexo

NÓS DOIS
DOIS NÓS

Ladrão de coração

Ladrão!
Ladrão de almas e de coração
ladrão de versos
ladrão de rimas
ladrão de rotinas
ladrão de pensamento

Mas me roube quantas vezes quiser
já que me roubou inteira
que me tenha o quanto der

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Ensaio sobre gostar

- Medo.
- De quê? 
- De que eu leia o mesmo livro, as mesmas páginas, o mesmo epílogo, o mesmo prólogo, a mesma trama, o mesmo clímax e, inevitavelmente, o mesmo fim. Até a sinopse nas orelhas pode se repetir.
- Vem sem medo, amor, e deixa eu cuidar de você. 

   Foi a coisa mais óbvia, clichê e piegas que alguém poderia ter dito. Mas mesmo sem confiar, eu fui. Fui porque parecia sólido e abstrato ao mesmo tempo, e era disso que eu precisava no momento. Precisava de um abstrato colorido, que não me prometesse futuro, e, sim, presente, mas que mesmo sem prometer me desse a sensação de eu poderia incluí-lo nos planos. Foi segurança o fator determinante. E aí fui me apaixonando pelos detalhezinhos não relevantes e muito importantes. 
   Veio como um tornado derrubando toda a cidadezinha que eu conhecia, que eu construí. Fez questão de não deixar nenhuma parede em pé. Com esses mimos, esses beijos, esse cheiro de chocolate e perfume uma da manhã na casa vazia, o café na cama às duas da tarde no quarto cheio de nós dois, a promessa de que tudo vai ficar bem. Um mês com jeito de nuvem macia, com a intensidade de bicicleta sem freio na descida. A vontade de nunca acabar.
   Tô cheia de esperança, de vontade de escrever outro livro, de acordar antes do sol e dormir depois dele, de aproveitar o dia em cada segundo. Porque gostar de alguém é tão mais externo do que o que está no nosso coração.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Estrelas

Tinha estrelas no céu,
meio que caiu na minha mão
a confusão me atrapalhou
não decidi se queria as estrelas no meu teto
ou na imensidão do universo

É que a Lua tem dessas coisas meio egoístas
quer todas as luzes só pra ela
mas eu prometo que vou deixar meio livre
pra luz das estrelas não virarem luz de vela

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Adeus

Me inspire
e respire este ar salgado
lembre de mim cercada de constelações
uma melodia nova
e uma letra riscada no papel de pão
porque foi a única coisa que encontrou

Lembre de mim assim
meio letra torta em linha reta
porque você me partiu ao meio
e eu cansada, parti.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Sim, você e eu

Tô esperando esse teu "sim"
pra tirar os desenhos da pasta
e bater na porta da tua casa
mostrando os traços que te fiz

Você sorrindo pra mim do papel
nem parecia mentira
parecia que tua vida era minha
parecia que eu te tinha nas mãos

Eu não te imploraria
mas peço que teu lado amigo
não deixe que tua amiga
se afogue nesse mar de expectativa

porque eu tenho medo de mar
só não tenho medo de amar
porque eu sempre gostei de perigos
mas sempre achei que você fosse mais fácil que nadar

Vou bater aí daqui dois dias
vou fingir que nada aconteceu
você pode dizer sim se quiser
vai ser um segredo: você e eu.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Bactéria

Tá tudo meio confuso agora.
Mas minha vó tem uma teoria pra remédios que deve funcionar com os assuntos do coração:
Se tá doendo e porque tá limpando.
E assim vejo você: uma bactéria sendo evacuada da ferida.
Tá doendo, mas se tá doendo e porque tá curando.
Daqui a pouco sobra só a cicatriz, mas com cicatriz eu já estou acostumada.