Saí do trabalho às 17h30 e fui correndo para casa, sem subjetividade, apenas literalidade: eu fui, literalmente, correndo para casa. Minha última refeição tinha sido às 6h30 da manhã, entre uma discussão e outra com meu namorado sobre a margarina que ele não queria misturada no queijo em seu pão francês. Para encerrar a discussão, comi o pão que tinha feito e deixei que fizesse outro. Outro pão, outro café com leite (mais café do que leite (mas muito açúcar)). Então, enquanto assistíamos ao jornal, iniciamos uma discussão sobre a margarina, o queijo e o pão. Meu café-da-manhã foi bem saudável. Correndo no caminho para casa deu saudade do café-da-manhã e ansiedade pelo próximo. Era a única refeição que fazíamos juntos, discutindo sobre a composição do sanduíche, o equilíbrio perfeito entre café, leite e açúcar, e, em alguns dias, enquanto passavam notícias esportivas, ele me explicava algo sobre futebol, o campeonato europeu, como odiava o Cristiano Ronaldo e adorava o jeito do Neymar Jr. jogar, falava sobre seu medo de passarmos vergonha durante a Copa e sobre como nem ligava mais para o Coritiba. Atravessando a rua senti cheiro de café. Deu saudade. Deu fome. Às 18h30 eu precisava estar no Bigorrilho para encontrar meu aluno particular para mais uma aula de redação, era 17h50, eu estava no Água Verde, correndo para casa. Foi a primeira coisa que descobrimos em comum, o primeiro índice a promover o sentimento que atacou ali: o amor por café. Descobrir sabores, pequenos bistrots, tipos de leite, sem leite, com ou sem açúcar, em momentos oportunos e inoportunos. Lembro que um dia ele foi jogar bola no domingo de manhã e me deixou dormindo e, bem, era domingo, então quando ele chegou, lá por meio dia, eu ainda estava dormindo. Senti o cheiro de café num meio termo inconsciente e algum tempo depois ele me acordou todo inseguro, com duas canecas fumegantes nas mãos, o cheiro fresco de café forte e perfume Malbec e o maior sorriso do mundo "você gosta de café, né?".
Sim, meu amor, eu gosto de café.
Cheguei em casa afobada, suspirando, lutando com os pulmões, desastrada, ofegante. Mal entrei na sala e senti o cheiro fresco de café e perfume Malbec, o maior sorriso do mundo "você quer café, amor?"
Não, agora eu quero a vida com você.
Mentira. Eu quero café sim. Mais café do que leite, mas pouco açúcar, por favor.