quinta-feira, 31 de outubro de 2013

I wish you were here (reflexão)

    "We're just two lost souls swimming in a fish bowl, year after year, running over the same old ground. What have we found? The same old fears."
   Tem música que eu ouço e penso: como eu não pensei nisso antes? Quem esse cara pensa que é pra expor minha alma desse jeito? É quase como se ele me conhecesse, como se me lesse. Aí eu descubro que não só eu, como milhares de pessoas agem e sentem do mesmo jeito. Centenas de milhares de bilhares de pessoas.
   Os sentimentos que mexem, que tocam, que bagunçam são os mesmos em todos e resulta sempre na mesma: solidão. Solidão, essa velha companheira do ser humano. Quando eu passo a noite em claro, de olhos secos, não sou só eu. Tem mais muitas pessoas pensando na mesma coisa e perderam o sono pelo mesmo motivo. Quando ouvimos essa música não há exclusividade de pensamento de suicídio. 
   O maior erro do ser humano é pensar que tá sozinho nessa. E outro maior erro do ser humano é pensar que não tá sozinho nessa. O homem é egoísta e não sabe lidar com as outras pessoas que se importam com ele; o homem nasceu pra viver em sociedade, mas se contenta com a solidão.
   Eu, por exemplo: estou fechada numa sala com muitas pessoas, mas tô recolhida na minha casinha imaginária, sozinha. Eu sou sozinha. E não sei lidar com quem se importa comigo. 
   Antes eu achava que eu era complicada, mas depois de um tempo parei de dizer que é culpa minha. O homem é complicado. Porque mesmo que não saibamos viver com os outros, precisamos deles e é por eles que nos isolamos.
   Por fim, era só pra dizer que Pink Floyd é uma banda desgraçada e que eu só aceito ouvir essa música se for na sua voz. And how I wish you were here.
   

Sem título

Tem dias que você amanhece sol pra anoitecer lua.
Ontem eu amanheci céu azul, fui deitar chuva.
Pra hoje acordar tempestade
e fazer sombra na rua. 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

A defesa de Colombina

Na fervura das cores
me vi perdida em vapor
da fumaça das dores
Arlequim me salvou

Pierrot chorou
fez de mim qualquer uma
nutre por mim ódio
difama à minh'alma impura

Mas não sabe ele
ou talvez saiba
e não assuma

que em hora alguma
Pierrot, na sua vida
fez de mim mulher única

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Palavra gasta

Pra um bom entendedor meia palavra basta
                                                         gasta
                                                         fala
                                                         marca
                                                         arrasta
E marca o tempo que falta pra palavra bastar.

O homem que roubou meu coração

   Já era tarde e eu andava sozinha numa rua pouco movimentada, até as luzes pareciam falhar quando eu passava, mas a noite era agradável e o ar era morno.
   Eu andava a passos rápidos quando o vi, veio gingando de leve, sorriso solto, empurrando a bicicleta, a jaqueta aberta até o umbigo, calça jeans e tênis. Parou e acendeu um cigarro. Já ensaiei um boa noite", vai que cola, não é?
   Então ele me viu e eu já fiquei toda eufórica, quase sorri, mas vamos manter a dignidade. Veio se aproximando devagar, sem tirar os olhos de mim. Quando estava há poucos metros tirou alguma coisa do bolso interno da jaqueta e disse:
- Boa noite, moça.
- Boa noite. - murmurei, tímida.
   Então alguma coisa gelada encostou na minha barriga quente e eu ouvi entre sussurros bem perto do meu ouvido:
- Se gritar ou correr vai tomar facada. Passa o celular e o dinheiro.
   E este foi o primeiro homem que roubou meu coração. E o dinheiro da janta do dia seguinte.

sábado, 26 de outubro de 2013

Distraídos venceremos

   Onde andava o julgamento quando esta prepotência precoce nos atingiu? Onde andava você quando eu estava a míngua minguando nossa vida. Seria este o fim?
   O fim de quê?
   O fim de uma relação instável que é relação por falta de um nome apropriado.
   Mal relacionado.
   O medo nos encarcera e nos esfrega a verdade nua da coisa não dita. Estava nua, mas você não viu.
   Despir as roupas e as máscaras, as mágoas esquecidas, as portas entreabertas que serão fechadas. Você é quem escolhe vir pra dentro ou partir.
   Silêncio na sua mente enquanto a minha ecoava desespero e, bem, os papéis se inverteram. Formalidade, falsidade, falta de idade, experiência, equivalência, dois pesos, duas medidas.
   Mentiras.
   Um milhão de amigos e nenhum deles fala a verdade, quatro pessoas e todas elas jogam e te diminuem a covarde, uma condição que nós aceitamos.
   É errado existir, entenda, para eles é errada a minha existência. Interesse, saliência, confiança, pobreza, sextas-feiras.
   Hoje não é um dia marcado, está marcado para ser mais um dia comum, enquanto você se esconde pra me ouvir, e finge que nada sabe, se esconde pra não ficar marcado na tua testa as minhas acusações, eu vou ali procurar abrigo em uma vida de verdade, longe das mentiras das suas amizades.
   E você fica aí, fingindo que vive, fingindo que não gosta, fingindo que convive, fingindo que não houve derrota.
   Fuja é do medo, não do meu olhar, é inocência demais mergulhar num rio e não se preocupar, eu sei.
   Mas já está na hora de você crescer, só os teus amigos estão rindo. O mundo não pára para te esperar.
   Só eu fiz isso.         

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Overdose de cafeína

Suor gelado, calafrio, 
ansiedade e arritmia cardíaca
Foi você quem causou isso em mim
e eu botando a culpa na cafeína

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

(In)coragem

   Estávamos há horas nos encarando pelo cantinho dos olhos.
   Horas não, segundos que pareceram horas.
   Se eu tivesse segurado sua mão, ele teria acariciado; se eu o tivesse beijado, ele não teria resistido; se eu o tivesse abraçado, ele apertava. Mas não fiz.
   Virei a cabeça e o encarei e tenho certeza que ele soube de tudo que eu queria fazer e não fiz, então ele fez por mim.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Sou um doido que estranha a sua própria alma

BICARBONATO DE SODA

Súbita, uma angústia...
Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma!
Que amigos que tenho tido!
Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido!
Que esterco metafísico os meus propósitos todos!

Uma angústia,
Uma desconsolação da epiderme da alma,
Um deixar cair os braços ao sol-pôr do esforço...
Renego.
Renego tudo.
Renego mais do que tudo.
Renego a gládio e fim todos os Deuses e a negação deles.
Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me
                           [no estômago e na circulação do sangue?]
Que atordoamento vazio me esfalfa no cérebro?

Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
Não: vou existir. Arre! Vou existir.
E-xis-tir...
E--xis--tir...

Fernando Pessoa

Olhei no espelho
e não me reconheci
Pobre de mim
que pensei que só eu não mudava
Dez anos num dia, envelheci.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Encarcerados

Duas pontas
   duas pessoas
      duas faces
         duas fases
             dois anos
                  dois planos
                Um amor incompleto
            uma alma dilacerada
      um nada
  Do vento,
o silêncio
                E agora?
               A hora passa sem passar
               a corda que os enforca
               e fecha a porta
               que ficou entreaberta
               pra só você caber.
               Só por favor,
                não esquece de se esconder.


domingo, 20 de outubro de 2013

Preguiça

Domingo a noite
eu tenho tanta preguiça
tanta preguiça
mas tanta preguiça
que a preguiça de ter preguiça
fez com que na preguiça do meu ser
não existisse mais preguiça.
E nessas linhas sobre preguiça
pra não dizer que fiquei com preguiça de falar de você
saiba que a preguiça de ter preguiça
permitiu que eu tivesse preguiça
de ficar brava com você.
Preguiça de não te amar. 

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Aurora

Me disse vai embora
e não olha pra trás
É agora!
Amanhã tem sol e vento novo
e nessa aurora
tem um par de olhos novos
esperando no querer
Eu olhei pra trás sim e disse assim:
o que é o amanhecer além de você?

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

SAI DO MEU ASSUNTO!

   Até pra escrever as bobagens que posto neste famigerado (ou não, risos) blog tem que ter muito talento. Neste caso, meu talento se resume a: como fingir que indiretas são arte. Só que no começo, lá em abril, não era assim: nunca ninguém tinha ouvido falar que a Luana tinha um blog, um dia eu postei um link e voilá! A primeira visita foi do cara pra quem eu escrevia. Injustiça ou quase? Mais que nunca eu me sinto uma adolescentezinha boba e apaixonada, é pateticamente patético. Tem um milhão de dúvidas na minha cabeça e  três zilhões de decisões que tenho que tomar, não só por ele, mas pela minha vida, porque sabe, eu tenho uma vida. Eu não sou deprimida, nem nada. É que as vezes eu fico assim, confusa. Como se eu só fosse resolver minha vida transformando meus problemas em equações. E, bem, eu não sei fazer cálculos de cabeça.
  Mas enfim, com tanta vida pra viver, eu perco sempre meia hora diária pra escrever aqui. Mas só tô justificando que eu não sou idiota, nem deprimida, que eu não estou triste com a minha situação, tô até bem conformada. Ontem fui até jogar com amigos novos, ganhei umas vezes e quebrei três unhas e até conheci um cara legal e trocamos coisas... hã, interessantes. E juro que não pensei nele com tanta intensidade (mas que eu queria que fosse ele colado naquele verão ali comigo, ah, eu queria... (Mas não era, azar o meu)). Mas uma coisa que eu peço, só uma vezinha, sem compromisso, sem nada, é que eu possa escrever sobre outra coisa que não esse amor que sinto que tá me transbordando, tá vazando pelos olhos; tudo o que eu escrevo tem a ver com "o mistério por debaixo de suas pálpebras" ou "como seu olhar é penetrante", "como seu cheiro é marcante" e etc. Tudo o que peço, seu moço, é que SAIA DO MEU ASSUNTO.
   Obrigada, de nada, beijos e bom dia.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Sem senso

Talvez não seja nessa vida ainda
Mas você ainda vai ser a minha vida
Sem ter mais mentiras pra me ver
Sem amor antigo pra esquecer
Sem os teus amigos pra esconder
Pode crer, que tudo vai dar certo

Sei lá, cansei de forçar
Entreguei nas mãos do Pai
Estrela que me guiará
Pedi forças pra continuar
Sem você
Se não for pra ser, não será
Desisti, mais ou menos
não é desistência, é não persistência
Hoje o sol nasceu num céu azul
Milagre, por sinal
O sol sempre vem com você
Eu tô vivendo um sonho mais que irreal
Escrevendo palavras sem sentido
esperando que você leia e entenda
que eu desisti sem querer
pra não te ver partir
pra não pensar que a vida é má
que eu te perdi sem nunca te ganhar

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Estúpido Eros

Hoje a vida me olhou de forma diferente 
Não fui eu quem pra ela olhou
Descobri o segredo de Eros valente
Mirou a flecha e por castigo acertou

De tudo é que eu não vou reclamar de novo
Mas se então é pra pedir,
pro meu coração peço repouso
Porque de anjo esse anjo não tem nada
Um carrasco é o que essa praga virou

Ele acha que faz bem pra todo mundo
acertando adoidado e as vítimas procurando amor
De amor, o fabricante, ele não tem nada
O cupido é sim quem fabrica a dor

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Prosa em verso torto

Hoje não é um bom dia
Olhei pro papel e ele não falou comigo
Não respondeu aos meus pedidos
de boas palavras pra representar meus sentimentos.
Na minha cabeça há um vendaval de coisas erradas
e os fatos vêm comprovar os pensamentos.
Aconteceu de um jeito torto 
e eu queria consertar
Mas não depende só de mim
O que me resta é prosear:

   E enquanto eu me sinto assim, vazia, faço minhas as constatações do Anitelli: "metade de mim agora é assim: de um lado a poesia, o verbo a saudade, do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim. E o fim é belo, incerto..." imprevisível.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

  A alma pede calma
                         a hora passa
                                      a alma se afoga na raiva
                                                                       e devora a paz

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Metamorfose psicológica

Aproveita o dia de sol
dança embaixo da sua luz
porque depois que a lua chega
tudo à angústia se reduz

sábado, 5 de outubro de 2013

À mercê

Prevejo uma madrugada vazia
a saudade vai vir me esmagar
Enquanto isso você estará dormindo
um sono tranquilo, decidido a evitar
essas preocupações tão banais
tão irreais, tão distantes de você.
E minha intenção não é tirar seu sono, juro
E nem sei porque essa minha fissura em te fazer saber
mas eu quero que você saiba
que é por você que eu fico à mercê.

Amanhã eu vou sair
durante a semana também
final de semana que vem vou de novo
Vou conhecer pessoas,
beijar caras, seduzir garotas
E no final, eu vou pra casa com você
Enquanto isso você estará dormindo
um sono tranquilo, decidido a evitar
essas preocupações tão banais
tão irreais, tão distantes de você.

Los hermanos, palavras cruzadas, Serpentes a bordo e fim da paciência

Eis que no sábado a noite não há nada a fazer a não ser ouvir Los Hermanos e fazer palavras cruzadas. Meu convite de grego. Foi meu tio quem me chamou. Minhas irmãs, meu tio e eu fazendo palavras cruzadas. 
De repente enjoou, fomos fuçar os canais da TV:
- O que tá passando? - perguntou a inocente Thaynná.
- Serpentes a bordo. - respondeu meu tio.
- E sobre o que é? 
Vira então a cabeça a fissurada Gabriela e responde: Serpentes a bordo, Thaynná, é sobre elefantes num navio.

Valeu Gabriela, você é a minha garota. 

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Ora bolas

Ora bolas
O humor de
MARIO QUINTANA

Edição Pocket da L&PM, um livro tão gostoso de ler, tão gostoso que me deu vontade de enfiá-lo na boca.
É sério, deve ser algum tipo de fagia que eu estou desenvolvendo. Eu tive uma vontade absurda de enfiá-lo na boca e mastigar, lamber, esfregar na cara, enfiar no coração, sei lá.
Tudo isso pra dizer que recomendo. 

Eis o bandido.

Saudações,

    Querido Deus,
    Eu sei que eu converso com voc.. Ops, o Senhor, todos os dias, mas é que hoje eu tô precisando de uma ajuda especial e mais formal. Eu sei que nos últimos anos eu venho enchendo seu saco (que já deve estar explodindo) com pedidos de proteção pras pessoas que convivem comigo e para mim em especial causdiquê também sou tua filha.
    Mas ó, é que eu nem consegui dormir direito essa noite. O Senhor não deve ter visto porque já tá bem ocupado cuidando de uns 7 bilhões de filhos. Eu também deveria reclamar, porque o Senhor deuzolivre viu, teve uma penca de filho e quer dividir a atenção entre todos eles e não consegue dar atenção pra nenhum direito. É que eu tô me sentindo abandonada ultimamente e olhando pros meus outros irmãos, tanto os conhecidos como aqueles que eu encontro nas ruas, vejo que eles também se sentem assim... Resolvi escrever esta carta pra reclamar.
    Já não acha que aquelas pessoas que andaram descalça na chuva ontem não molharam os pés demais? Que aquelas pessoas que se esconderam nas marquizes já não se esconderam demais?
    Papai, eu vejo gente chorar e morrer à míngua, gente que só tem o Senhor.
   Ontem eu sentei num meio fio pra esperar a chuva passar e tinha um homem molhando os pés na poça, perguntei se ele não sentia frio e ele disse que não, que se o coração dele tava quentinho, ele não se importava com a pele.
    Eu até chorei. 
    Não quero ser apelativa, mas acho que teus filhos já sofreram demais. Ou salva todo mundo, ou manda logo um dilúvio pra recomeçar esta Terra do Senhor.
    Se bem que com a chuva que caiu ontem, acho que o Senhor começou o dilúvio por Curitiba.

Att,
Uma das tuas MUITAS filhas
(é mulher pra caralho, meu Deus)

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Adendos e apêndices e notas de rodapé


Contradição

Noite passada eu não te vi
Talvez este seja o sinal
De que a realidade se apossou de mim

Por que as vezes eu sinto
que você me enrola
e se enrola todo
nos pensamentos que te batem a porta?

As vezes soa a mim
que você é só mais alguém que inventei
e que nessas noites sem fim
eu sou pra você só mais alguém que passei

Lembrei de ti noite passada
contigo eu não sonhei
Talvez eu esteja mesmo errada
mas não fui só eu que errei

E assim como eu não consigo escapar
você também não vai
as palavras não são válvulas, querido
e a música é bem mais que títulos

Se você vem até aqui pra me encontrar
Saiba que é um trabalho duro p'ra nada
Eu não estou só nas tuas e nas minhas palavras
Eu estou nos teus livros, teu relógio, teu sofá da sala

Mas pra mim isso não serve
é uma contradição, isso diverge
do nosso acordo tão bobo
somos um do outro, amor, e somos de todos

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Uma parte de Luana é Ana

   Quem é que vive sozinho neste mundo não é mesmo? Quem é que enfrenta sozinho os açoites da vida sem ficar louco, sem ficar triste, quem é que grita sem ficar rouco.  Ninguém chora sem esperar um abraço, sem esperar que um pedaço de si desmorone se alguém não estiver ali, em pé, amparando e você esperando que ele não te abandone. Eu não enfrentaria o corredor de espinhos que é a minha vida sem as pessoas que me dão as mãos. E nesse corredor de espinhos há aquelas que me impulsionam a continuar e enfrentar cada ramo com coragem, há aquelas que seguem comigo durante todo o caminho e há aquelas que estão me esperando no fim para cuidar dos meus machucadinhos.
   E sem essas pessoas, eu não seria ninguém. Já tinha desistido na metade.

Ana, que me impulsionou a continuar, segue comigo por todo o caminho e que eu quero que esteja lá quando tudo isso acabar. Que há 18 anos vem sendo meu anjinho da guarda, mesmo que a gente só se conheça há 4. Feliz Aniversário. Eu te amo.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Características que não se mudam.

Eu e meu dom de encontrar paz nos braços das pessoas mais confusas.

Meio minuto

   Ela veio correndo perdendo mochila e livros e deixou cair uma garrafa de água e um papel, pensou em voltar eu acho, porque deu um passo para trás. Devia estar muito atrasada porque desistiu e subiu de três em três degraus as escadas. Confesso, mostrou uma parte da calcinha. Ela estava de vestido (e que vestido bonito).

   A fila do jantar era longa e já durava cinco minutos quando eu ouvi uma risada alta e fina, olhei para trás meio irritado e me surpreendi ao ver que era a mesma moça de hoje à tarde, com seu mesmo vestido florido e coxas grossas. E nossa, como era linda! Tinha o cabelo muito liso e de um castanho quase loiro. A segui por todo o refeitório e deixei algumas pessoas passarem na minha frente na fila no buffet para ficar perto dela e ouvir sua voz. Só de curiosidade, sério. Porque a risada dela era muito irritante.

   A perdi de vista quando fui reclamar do frango meio cru e muito desanimado fui sentar com uns amigos no fundo do refeitório. Entre um agrião e um pedaço de frango meio cru nossos olhares se encontraram, e ela, na minha frente, logo desviou a cabeça.

   Três semanas depois eu precisava de um livro na biblioteca. Mas onde está esse diacho?! Estava concentradíssimo quando houve um estrondo numa das cabines de leitura, e lá estava ela se desculpando por derrubar o notebook da amiga em meio a uma enxurrada de sibilos de pedidos de silêncio. Não contive a risada e fui ajudá-la. Ela não estava nenhum pouco vermelha, como pode?
   Quer tomar um café? Saiu antes que eu pudesse pensar, e antes que eu pudesse assimilar a pergunta que tinha feito ela aceitou. Como assim? Ela aceitou? Coloquei a mão nos bolsos, era bom que eu tivesse três reais para pelo menos pagar um café a ela. Deizão. Que beleza, dá um capuccino.
   Nós já estávamos descendo do elevador quando eu me toquei que estava levando a moça bonita dos cabelos castanhos para tomar um café na cantina. Só não posso contar uma piada muito engraçada, se ela der aquela risada de novo vai me rachar a cara de vergonha.

   Onde você mora? No centro. Eu também. Você curte indie? Fui no Lolla. Que inveja, vou ano que vem. Vamos juntos. Seus olhos são lindos. Gostei do seu cabelo. Quer mais um café? Acho que um chocolate. Já venho. 
   Ela sorria muito, muito mesmo e quando eu contei uma piada ela riu e eu achei a risada bonitinha. Encantadora, na verdade.  Não, você está se apaixonando? Amor a primeira vista? Nunca. Vou pagar esse chocolate e dar no pé, inventar alguma aula. Quanto custa? Mas quatro e cinquenta é um roubo. Ela está lá, leva o chocolate, troca mais meia dúzia de palavras e vaza. Talvez um beijo. Um beijo e vaza. Só pra não perder o deizão. Teu chocolate. Obrigada. Que beijo bom. Não, não goste. Mais quinze minutos e tchau. Linda, tenho que ir, tenho uma aula. Ok, a gente se vê. Te adiciono no Facebook. Tá. Tchau.

   Duas, três semanas, um mês. Fui pra aula num horário que eu já não ia há um mês, vou falar com a moça, que atitude estúpida. Um beijo e tchau, ela nem vai querer olhar na minha cara. Talvez ela tenha gostado de mim também, se eu inventar uma desculpa, ela aceita. Vou dizer que, sei lá, estava apaixonado demais e com medo. Ela vai cair na hora. Subi as escadas de três degraus e cacete! Ela estava lá, toda linda, de vestido colorido e chega um cara equilibrando o cigarro e o copo de café numa mão só e no outro toda a cintura dela bem apertada entre músculos. 
   Vadia.