segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A musa.

   Tem certos ventos que nos atraem tantas coisas boas quanto os ventos que tiram coisas de nós. Naquela tarde o vento era próspero. Talvez seja porque no campo eu ache que nunca nada de ruim pode me agarrar pelo pé e me pendurar de ponta cabeça no mundo, no campo o capim é paz e correr descalço é tão comum que não faz nem poesia. Naquela tarde os ventos prósperos me levaram até aquelas pedras onde o córrego cristalino de água deixava uma trilha de promessas boas, prometia, primeiramente, me levar a uma cachoeira. E a vista das quedas era de tirar o fôlego. Sentada nas pedras, meditando sobre a vida, cruzei seu olhar emergir da água. Quem se assustou mais, eu ou a ninfa, não sei, mas eu caí na água também.Quando voltei à superfície não era uma, e sim centenas de milhares de luzinhas rodeando minha cabeça e eu ouvia suas risadas como sinos. As ninfas, as musas, as fadinhas, coloridinhas e sapecas sapecando pela água, pela natureza. Essas que rodearam a cabeça de Homero, de Dante, Velazquez e da Vinci, de Goddard. Essas com quem apenas sonham Hichcock e Tarantino. Pequenos seres de luz, mitológicos, magníficos, vindo em minha direção, para me inspirar, para me dar toda a genialidade das maiores personalidades da humanidade. Vindo. Me atacar. Bicadas, mordidinhas, puxõezinhos de cabelo. Elas vieram apenas para levar embora o pouco de serenidade e criatividade que eu tinha. Acéfala, desmemoriada, um ser comum, pereci no fundo daquelas águas, que depois a mim vieram se revelar nada mais que esgoto a céu aberto.

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