terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Violeiro

   De repente, tudo ficou meio sustenido.
   Eu não sei ler partituras, pois é, então fiquei confusa quando disseram que minha vida era representada numa. Essa história de "tudo ficou sustenido" parece ser ruim. Mas e se for bom e eu estou aqui reclamando?
   Ele que disse que minha vida estava virada numa partitura. Mas vindo de um músico que estava aprendendo a ler partituras, eu imagino que foi no sentido pejorativo. Acho que ele fez uma piada sobre a confusão que eu faço com tudo. Era tão simples eu pegar sua mão e deixá-lo me conduzir. Mas é música demais na minha vida e de repente me veio o medo de estar escolhendo a música errada, a música ruim.
   "Deixa eu te ensinar uma coisa de violeiro de estrada, Luana, não é dos acordes mais complicados que saem as músicas bonitas. Você pode me deixar compor uma canção com dois acordes para você e nós dois deixaremos ele se complicar com os arranjos tão difíceis quanto a cabeça dele."
   Eu ri. Tinha como não rir? Nesse ímpeto, nessa surpresa de saber que todo mundo sabia da minha vida melhor que eu.
   "Você está enganado." Mas eu sabia que ele não estava. Mesmo não sabendo chongas dessa coisa de violeiro de estrada, eu sabia do que ele falava. E eu sentia, com todo o meu coração, com toda a minha vontade, que ele tinha razão. Então só por aquela noite eu deixei que os dois acordes me encantassem, era um violão e uma viola, vinho, cigarro e todo o céu ao nosso dispor numa madrugada de sexta-feira.
   E eu, eu era toda estrelas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário