terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O diário do moço dos cachinhos

   "Ela demorou pra dormir.
    Eu, com meus braços envoltos nela, oscilava entre a consciência e os sonhos, mas eu sabia que ela estava acordada. Com medo.
    Eu estava mal, mal porque meus braços não lhe eram suficientes, mal porque o sexo há pouco findado não lhe foi tão bom, mal porque ela pensava em outro, mal porque não era ali que ela queria estar e, principalmente, mal porque outra pessoa a chamava. Mesmo longe, ele chamava. E ela iria até ele pela manhã, como ela fazia agora numa frequência de todas as semanas. 
    Ela iria. E eu, quando o sol saísse, teria que fingir não me importar, fingir indiferença, fingir que ela não faria falta por janeiro inteiro, que não sentiria seu cheiro na minha cama em todos os dias do próximo mês. Enquanto ela, depois do banho, nem se lembraria tanto de mim. O creme dental tiraria meu gosto da sua boca e até o próximo sábado todas as marcas que não chegariam a virar hematomas sairiam de seu corpo. 
    E eu aqui, sentindo o cheiro do seu perfume doce de café no meu travesseiro, lembrando do último abraço quando ela falou o nome dele. E fingiu que eu não tinha ouvido. 
    Cigarro, vinho e café. 
    Suportar sua ausência em janeiro, foi por nosso bem.
    Você lembra dele na melodia, eu lembro de você.
    A última vez foi doce, para não amargar tanto quando eu te ver partir."

Moços de letras não choram,
moços de letras escrevem.
E eu gostaria de escrever você.
Sim, foi por nosso bem. ♥

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